Presidente Lula aumenta uso de expressões religiosas em discurso no Nordeste

No último evento em Arcoverde, Pernambuco, o presidente Lula (PT) surpreendeu ao aumentar significativamente a quantidade de expressões religiosas em seu discurso. Em média, ele fez referência a Deus ou à palavra “milagre” uma vez a cada minuto, demonstrando uma mudança na sua retórica habitual.

Essa mudança ocorre em um momento delicado para o governo, especialmente com a insatisfação do público evangélico. Com isso, alguns aliados têm aconselhado o presidente a adotar gestos que possam aproximar esse grupo, que atualmente tem demonstrado mais proximidade ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Como parte de sua agenda no Nordeste, Lula esteve em Pernambuco e Ceará, participando de cerimônias oficiais. Em Arcoverde, durante a inauguração da Estação Elevatória de Água Bruta de Ipojuca, ele proferiu um discurso que durou aproximadamente 25 minutos. Nesse tempo, fez 11 referências a Deus, mencionou “milagre” 16 vezes, além de usar outras expressões como “fé” e “homem lá de cima”.

Essa abordagem mais religiosa foi evidenciada em trechos como: “Eu queria perguntar se vocês acreditam em milagre? Então, eu vou contar dois milagres para vocês…”. Lula compartilhou histórias de sua infância e fez questão de enfatizar o papel da fé e da crença do povo para alcançar determinados feitos, como a transposição do Rio São Francisco.

Essa maior utilização de expressões religiosas marca uma ruptura com o padrão adotado pelo presidente em seus discursos anteriores. Em análise feita pela Folha em 52 discursos de Lula neste ano, ficou evidente que a menção a Deus era menos comum em suas falas, com exceção das vezes em que usava a expressão de forma figurada.

Além disso, o presidente encerrava seus discursos desejando que “Deus abençoe”. Entretanto, em 2024, as referências a Deus também foram utilizadas para criticar discursos políticos que usavam a religião de forma desvirtuada.

Essa mudança na retórica de Lula acontece em um momento de queda na aprovação de seu governo. Pesquisas indicam que a sua popularidade está em empate técnico com a rejeição, o que tem sido motivo de preocupação.

Para reverter esse cenário, o governo tem adotado estratégias de comunicação, como a recente campanha “fé no Brasil”. Apresentada durante uma reunião no Palácio da Alvorada, a campanha busca despolarizar o ambiente político e ressaltar os benefícios dos programas governamentais para a população em geral.

Apesar de negarem que o alvo seja o eleitor evangélico, a campanha pretende transmitir a mensagem de “fé” em tempos melhores. Essa iniciativa reflete a nova abordagem adotada pelo presidente Lula, que busca reconquistar a confiança da população em meio a um cenário desafiador.