Protestos populares forçam governo do Panamá a recuar em contrato de mineração

“`html



Resistência camponesa

Resistência camponesa

Na prática, a resistência camponesa à Lei 44 encontrou amplo apoio em outras zonas rurais do país em que se iniciava a luta contra o acaparamento da água por empresas hidrelétricas. O que levou o governo seguinte a derrogar a Lei em questão para proceder, sem este fator de resistência política, à ampliação do Canal, que hoje enfrenta sérios problemas de dotação de água para seu funcionamento, associados à mudança climática e agravados por 24 anos adicionais de deterioração ambiental no Corredor Interoceânico, como no resto do país.

Estes problemas, que não são de origem recente, convergem agora com os associados a uma grande exploração de mineração metálica a céu aberto nas proximidades da bacia do Canal, na região centro-ocidental do Atlântico panamenho, e a deterioração do aterro sanitário da Capital do país. A isso se somam outros de desmatamento, contaminação de rios, uso excessivo de agrotóxicos e gestão de lixo em todo o território. Tudo isso, em um país de rápido crescimento econômico, que coincide com uma concentração de renda que o situa entre os mais desiguais a nível mundial.

O Panamá ingressará, em breve, na situação advertida em 2015 pelo papa Francisco em sua encíclica Laudato Si’, ao indicar que quando se fala em “meio ambiente”, faz-se referência a “uma relação, a que existe entre a natureza e a sociedade que a habita.” Isto, acrescenta, nos obriga a entender que em nossa relação com a natureza “somos parte dela e estamos interpenetrados.”

Atendendo a isto, diz Francisco, encarar os problemas da contaminação demanda “uma análise do funcionamento da sociedade, de sua economia, de seu comportamento, de suas maneiras de entender a realidade”, pois se requerem soluções “que considerem as interações dos sistemas naturais entre si e com os sistemas sociais”. De fato,

Uma só crise

Não há duas crises separadas, uma ambiental e outra social, e sim uma só e complexa crise socioambiental. As linhas para a solução requerem uma aproximação integral para combater a pobreza, para devolver a dignidade aos excluídos e simultaneamente para cuidar da natureza.

Este requisito ainda está além das possibilidades da cultura política dominante no país, cuja caixa de raciocínio é cada vez mais estreita: os problemas, de um em um; as soluções só são rentáveis em uma economia que se supõe neoliberal, mas que ainda está atada ao liberalismo oligárquico de meados do século passado, e o método adequado, só aquele que ofereça resultados imediatos, ou pelo menos que assim pareça. Pela mesma razão, assim ligada por um lado à necessidade de eludir os problemas da iniquidade no acesso aos serviços básicos para o bem-estar social, e atada por outro ao fetichismo da tecnologia que promete resultados e lucros imediatos, esta cultura não está em condições de gerar uma agenda política socioambiental.

Nisso, o fundamental está em que o ambiente é o resultado das interações dos humanos com seu entorno natural mediante processos de trabalho socialmente organizados. Pela mesma razão, se desejamos um ambiente distinto, teremos que criar uma sociedade diferente. O caráter desta diferença, e os meios para criá-la, chegarão em seu momento a estar no coração do debate político nacional.

Este momento ainda não chegou, mas chegará pelo caminho que abriram há um quarto de século o bispo de Colón e Guna Yala e os missionários e evangelizadores da Costa Debajo de Colón. A carta que abriu este caminho continua sem resposta, mas chegará a recebê-la no dia em que a sociedade panamenha dê a si mesma um Estado nacional que faça do exercício da soberania nacional a expressão da soberania popular.

Uma verdade, posta a caminhar, segue andando até que deixa de ser, e vai somando apoios pelo caminho que abre. Assim fez a carta de Monsenhor Ariz: encaminhar as coisas de uma maneira que continuará sendo nova até chegar a seu destino.

Confira a carta escrita por Monsenhor Ariz em 1999:



“`

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo