Raquel Lyra sofre derrota, enquanto João Campos contrapõe-se para evitar influência do PT em Pernambuco

Adversários políticos no estado de Pernambuco, a governadora Raquel Lyra (PSDB) e o prefeito do Recife, João Campos (PSB), têm travado uma disputa silenciosa pelos aliados nos últimos dias. Lyra conseguiu atrair o Partido Social Democrático (PSD) para sua base, tirando-o do entorno do PSB. No entanto, João Campos pretende revidar ao se unir a ex-aliados de Lyra.

Em 2022, Raquel Lyra foi eleita governadora no segundo turno, encerrando um ciclo de 16 anos de poder do PSB no estado. Desde então, ela tem buscado fortalecer sua base para garantir sua governabilidade.

O PSD agora ocupa a Secretaria da Cultura de Pernambuco com Cacau de Paula, que antes ocupava o cargo de secretária de Turismo na Prefeitura do Recife. Cacau é filha de André de Paula, atual ministro da Pesca do governo Lula, e comanda o partido no estado.

Apesar de possuir a maior bancada no Senado e uma das maiores na Câmara, o PSD não conseguiu eleger deputados federais ou estaduais em Pernambuco nas últimas eleições. Por isso, o partido busca se fortalecer para os próximos pleitos.

A articulação de Raquel Lyra para atração do PSD teve o aval do presidente nacional do partido, Gilberto Kassab, que tem expectativa de uma possível filiação da governadora ou da vice-governadora Priscila Krause (atualmente filiada ao Cidadania) em 2026.

Com o PSD em sua base, a governadora pode enfrentar menos obstáculos com relação ao governo do presidente Lula. Enquanto isso, seu atual partido, o PSDB, faz oposição ao PT, e a governadora se mantém neutra em seu discurso, buscando também pontes com o governo federal, mesmo contando com o PL como aliado, um partido bolsonarista.

Em resposta à ação de Lyra, João Campos busca ampliar sua base de aliados dentro da União Brasil. O objetivo é garantir apoio que possa atenuar possíveis danos caso o PT deixe a coligação em 2024. Atualmente, os petistas são apoiadores do prefeito.

Para isso, João Campos firmou uma aliança com o grupo político do ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho, filiado à União Brasil e filho do ex-senador Fernando Bezerra Coelho, que já foi líder do governo Bolsonaro. O prefeito também conta com o apoio de Luciano Bivar, presidente nacional do partido.

Miguel Coelho foi candidato a governador em 2022, obtendo 18% dos votos e ficando em quinto lugar. No segundo turno, ele apoiou Raquel Lyra contra Marília Arraes.

Após o segundo turno, Lyra teve conversas com Miguel Coelho, mas não chegaram a um acordo. Aliados de Coelho afirmam que a governadora ofereceu uma secretaria de pequena expressão, o que teria sido proposital, para forçar uma negativa dele. Segundo informações de pessoas próximas, Lyra não demonstrou plena confiança em um acordo.

No entanto, o estopim para que o grupo de Coelho voltasse a se aliar ao PSB, depois de sete anos, foi a articulação de Lyra com o PSD. Isso porque Miguel estava preparado para ingressar no partido, mas a governadora avançou sobre a legenda, interrompendo as tratativas.

Agora, Miguel Coelho indicará um nome para ocupar a Secretaria de Turismo do Recife. Há especulações também sobre uma possível remodelação no secretariado do prefeito, além da possível ida de Miguel para uma secretaria mais importante.

Critica inclusive por aliados, Raquel Lyra fez desse seu primeiro movimento de destaque político em quase oito meses de gestão. Nos próximos meses, ela pretende aprofundar as negociações com o Avante, que apoiou Marília Arraes, e com o MDB, que está em uma posição híbrida, sendo aliado tanto de João Campos quanto de Lyra. A governadora tentará conquistar a exclusividade dos emedebistas.

Apesar de o PT fazer parte da base do prefeito João Campos, o partido pretende solicitar a vaga de vice na chapa para as eleições do próximo ano. Isso ocorre porque, se o prefeito decidir concorrer ao governo contra Raquel Lyra em 2026, um petista assumiria a prefeitura do Recife. Na visão petista, nesse cenário, Campos poderia até mesmo permanecer no cargo, mas seria levado a apoiar um candidato do PT para governador.

Dentro do PT, as chances de uma candidatura no Recife para enfrentar João Campos são consideradas mínimas. O partido de Lula não quer correr o risco de uma derrota e desgaste com o PSB, um importante aliado nacional, que poderia gerar consequências no Congresso e em outras alianças pelo país.

No entanto, aliados de João Campos acreditam que somente em 2024 será possível ter uma resposta mais clara sobre o apoio do PT. Os petistas ocupam duas secretarias municipais.

Apesar disso, aliados do prefeito entendem que o PT é determinante para garantir uma base sólida. A adesão de quadros petistas e o tempo de rádio e televisão do partido na coligação em 2024 seriam cruciais.

Até o momento, João Campos já conta com o apoio seguro do seu partido, o PSB, além do PDT e do Republicanos para a reeleição. Ele também avançou nas negociações com o Solidariedade, partido presidido em Pernambuco por Marília Arraes.

O PSB está negociando a adesão de Marília à base de João em troca de apoio para a eventual candidatura dela à prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, uma cidade com 643 mil habitantes na região metropolitana do Recife e atualmente governada pelo PL, partido de Bolsonaro.

Essas movimentações políticas evidenciam a disputa acirrada por aliados entre Raquel Lyra e João Campos, que buscam consolidar suas bases e garantir o apoio necessário para a próxima eleição. Os próximos meses serão cruciais para o desenrolar dessa batalha política em Pernambuco.

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