Na última terça-feira, durante o evento paralelo “Actualizing reparatory justice: Reparations for slavery crimes through decolonizing law no Third Session of the Permanent Fórum on People of African Descent”, a Coalizão Negra por Direitos marcou presença como coanfitriã, em uma iniciativa que visa discutir questões relacionadas à justiça e reparação. Com um histórico marcado por séculos de escravidão e tráfico de escravos, o Brasil se destaca como um dos locais mais afetados por essas cruéis práticas em toda a história.
No palco do evento, a Coalizão Negra por Direitos e o Ilê Omolu Oxum, representados por suas lideranças, enalteceram a importância de abordar questões como reparação e justiça em prol das comunidades negras afetadas por décadas de exploração e opressão. Com 293 organizações afiliadas, a Coalizão Negra por Direitos tem sido uma voz ativa na luta pelos direitos das pessoas negras no país.
A troca de ideias durante o evento destacou a cruel realidade vivida pelos povos africanos que foram traficados e escravizados nas terras brasileiras ao longo dos séculos. Com mais de 3,6 milhões de escravos desembarcados em solo brasileiro, as marcas desse período sombrio ainda reverberam na sociedade contemporânea, refletindo-se em práticas cotidianas de racismo e discriminação racial que colocam a população negra em situações de extrema vulnerabilidade.
Debater sobre colonialismo e descolonização se torna essencial para compreender o legado deixado por séculos de opressão e violência. A história do Brasil, marcada por um passado escravagista e racista, ainda ecoa nas práticas discriminatórias enfrentadas pela população negra no país. É fundamental revisar e discutir o sistema colonial à luz de uma perspectiva plural, que inclua o debate sobre reparações e justiça social.
Uma das narrativas apresentadas durante o evento trouxe à tona uma vitória significativa para as religiões de matriz africana no Brasil, destacando a resistência e a luta de Mãe Meninazinha de Oxum. A Iyalorixá, aos 87 anos, liderou uma batalha de três décadas para recuperar objetos sagrados apreendidos no início do século 20, em meio a uma legislação que criminalizava o culto aos orixás.
Essa jornada de luta e superação exemplifica a persistência e a coragem necessárias para desafiar o racismo estrutural que permeia a sociedade brasileira. O resgate dos objetos sagrados, transferidos para o Museu da República após décadas de repressão policial, simboliza uma conquista não apenas para as comunidades de fé, mas também para a memória histórica do país.
Ao dar visibilidade a casos como o de Mãe Meninazinha, o evento evidenciou a importância de reconhecer e valorizar a herança cultural e espiritual das comunidades negras, promovendo um diálogo necessário sobre reparação e justiça para aqueles que foram historicamente marginalizados e oprimidos.
Diante de um cenário marcado por desigualdades e injustiças, iniciativas como essa reafirmam o compromisso com a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva, onde a diversidade e a pluralidade sejam verdadeiramente celebradas e respeitadas. A voz de Mãe Meninazinha ecoa como um símbolo de resistência e dignidade, inspirando gerações futuras a seguirem lutando por um mundo onde a igualdade e o respeito sejam pilares inquestionáveis.
Esse evento, repleto de reflexões e experiências transformadoras, representa um marco na luta por reparação e justiça para as comunidades afrodescendentes, iluminando caminhos possíveis para uma sociedade mais justa e equitativa para todos os seus cidadãos. A história de Mãe Meninazinha serve como um lembrete poderoso do poder da resiliência e da determinação em face das adversidades, inspirando-nos a seguir em frente na busca por um futuro mais inclusivo e igualitário para todos.
Que a mensagem de resistência e superação compartilhada nesse evento ecoe além das fronteiras do espaço físico onde ocorreu, alcançando corações e mentes em todos os cantos do país. Que possamos aprender com essas experiências e nos unir em prol de um mundo mais justo e humano, onde a diversidade seja não apenas tolerada, mas celebrada e enaltecida como fonte de força e beleza.
Obrigado por acompanhar a cobertura deste evento e por se unir a nós na construção de um futuro mais igualitário e inclusivo para todos. Juntos, podemos transformar realidades e construir pontes que nos aproximem de uma sociedade verdadeiramente justa e democrática. A luta continua e o caminho é longo, mas com determinação e solidariedade, podemos alcançar um mundo onde a prosperidade e o respeito são compartilhados por todos os seus habitantes.
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