Repressão e demissões marcam o movimento sindical em São José dos Campos em 1985

O movimento grevista que ocorreu em São Paulo no dia 27 de abril finalmente chegou ao fim após intensas negociações. Entretanto, em São José dos Campos, a greve continuou por mais uma semana, até o dia 9 de maio. Ao retornarem ao trabalho, os operários da General Motors (GM) foram confrontados com uma nova onda de repressão e perseguição. Cerca de 400 trabalhadores foram demitidos e 33 deles enfrentaram processos criminais. Além disso, seus nomes foram incluídos na “lista suja” enviada pela GM para o Serviço Nacional de Inteligência (SNI) e outras empresas da região.

Paulo Francisco Moreira, ex-diretor de Recursos Humanos da empresa em São José dos Campos, confirmou à Comissão da Verdade da cidade a existência de documentos confidenciais produzidos pela “comunidade de informação” entre julho de 1983 e setembro de 1985, com informações fornecidas pela GM. Os documentos, relatórios e informes eram originados na Seção de Informação da Escola de Especialistas de Aeronáutica e, em menor medida, na Agência de Informação do Centro Técnico Aeroespacial, ambas vinculadas ao Ministério da Aeronáutica. Moreira trabalhou na General Motors do Brasil de 1964 a 2006, e atuou na cidade de São José dos Campos por 20 anos.

A Comissão da Verdade do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos ressalta em seu relatório final que o Delegado Titular de Polícia Alfredo Augusto, da Assistência Policial da DERIN – Delegacia Regional de Polícia de São Paulo Interior – assumiu a responsabilidade de escrever um relatório sobre os processos contra os 33 trabalhadores demitidos na greve com ocupação de fábrica da GM em 1985. Esse relatório, segundo a comissão, continha um resumo preliminar dos resultados da investigação, a transcrição de dois depoimentos de trabalhadores envolvidos na mobilização e 27 fichas funcionais de trabalhadores da GM. Essas fichas, que foram recolhidas pelo delegado, eram as mesmas produzidas pela própria empresa no momento da contratação de seus funcionários e mantidas em seus arquivos particulares.

A troca de informações sobre ativistas e demitidos políticos também servia para a elaboração das “listas sujas”, o que tornava ainda mais difícil para esses indivíduos encontrar um novo emprego. Além disso, havia outros mecanismos para impedir a contratação e recolocação profissional dos ativistas demitidos, como a exigência do chamado “atestado ideológico” expedido pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS).

Tiago Nogueira, um dos líderes da greve de 1985 na GM de São Caetano do Sul, relatou que o coronel da Aeronáutica Evaldo Herbert Sirin comandava a segurança dentro da fábrica e atuava em parceria com Antônio Cursino de Alcântara, gerente de relações do trabalho da GM do Brasil. Os dois eram responsáveis por informar aos órgãos de repressão tudo o que acontecia na fábrica. Nogueira também destacou a presença de agentes infiltrados entre os operários.

A General Motors do Brasil negou qualquer envolvimento e colaboração com o governo militar durante a ditadura. A empresa afirmou que defende a democracia, respeita a legislação nos países onde atua e segue rígidas regras de compliance em todo o mundo. Em nota, a montadora reiterou seu compromisso com os ideais democráticos.

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