Outros símbolos da causa palestina
Além da melancia, uma série de outros símbolos foram e são usados pelos palestinos para enfrentar ou contornar as medidas de apagamento simbólico israelense e reafirmar sua identidade nacional.
Oliveiras e azeite
Árvore extremamente resistente, capaz de suportar climas bastante secos e ventos fortes, as oliveiras são tomadas pelos palestinos como símbolo de sua resiliência e longevidade. Estima-se que sua origem remeta à Era Terciária (65 milhões de anos atrás), entre a região da Palestina e Síria. Na primeira vez que um palestino teve a oportunidade de discursar na ONU, o presidente da Organização para a Libertação da Palestina, Yasser Arafat, não deixou de citar as oliveiras: “venho com a arma do combatente da liberdade em uma mão e um ramo de oliveira na outra. Não deixem que o ramo de oliveira caia de minha mão”.
Além de ser um símbolo de resistência, as oliveiras também representam um importante e antigo meio de sobrevivência para milhares de palestinos que trabalham no plantio e na colheita das azeitonas e na produção do azeite, muito utilizado na culinária palestina. Em 2011, chegou-se a estimar que 57% da área cultivável nos territórios palestinos era usada para o plantio de oliveiras, e cerca de 100 mil famílias palestinas têm o plantio de oliveiras e a produção de azeite como sua principal fonte de renda. Pelo seu peso simbólico e cultural, a destruição israelense de plantações palestinas de oliveiras é uma constante.
Chave do retorno
Todos os anos, no Dia da Nakba, os palestinos saem às ruas para protestar e homenagear seus antepassados que foram expulsos de suas terras históricas em 1948. A Nakba (“Tragédia”) refere-se à ocasião na qual quase 1 milhão de palestinos foram expurgados de suas terras. E um dos principais símbolos exibidos neste dia de indignação são chaves antigas, pesadas e desgastadas pela ação do tempo: essas chaves foram das casas de seus antepassados e têm mais de 76 anos de idade. São mais antigas que boa parte da população israelense, e são símbolo de um desejo negado aos palestinos: o retorno às suas terras de origem.
![Manifestantes levantam](https://reporterfortaleza.com.br/wp-content/uploads/2024/02/1708101229_623_Simbolismos-da-Resistencia-Palestina-Oliveiras-Chaves-do-Retorno-e-Tatreez.jpg)
Atualmente, a ONU reconhece os palestinos como um dos povos mais deslocados do mundo: são mais de 5,9 milhões de palestinos distribuídos entre a Jordânia, Gaza, Cisjordânia, Síria, Líbano e Jerusalém Oriental, impedidos de retornar às suas casas.
Keffiyeh
O keffiyeh é um lenço xadrez tradicional, utilizado historicamente para distinguir os beduínos da população das cidades e aldeias. Eles o usavam para se proteger do sol e da areia no deserto. Mas em 1936, quando os palestinos se insurgiram contra a ocupação britânica – processo que ficou conhecido como Revolta Árabe – os grupos rebeldes adotaram o keffiyeh como parte de seus uniformes.
![Yasser Arafat com seu célebre keffiyeh durante discurso em reunião do FMI em 2001. (Foto: Remy Steinegger / FMI / Flickr)](https://reporterfortaleza.com.br/wp-content/uploads/2024/02/1708101229_589_Simbolismos-da-Resistencia-Palestina-Oliveiras-Chaves-do-Retorno-e-Tatreez.jpg)
Por ser um acessório de fácil identificação pelas tropas britânicas, os líderes palestinos determinaram que todos os homens – rebeldes ou não – deveriam utilizá-los, para confundir os britânicos. Assim o keffiyeh começou a ser utilizado como símbolo de resistência. Em 1967, após a Guerra dos Seis Dias, Israel proibiu, além das bandeiras palestinas, também o keffiyeh.
Handala
Criado pelo cartunista Naji Salim al-Ali em 1969, o Handala é um personagem que representa os refugiados e a consciência de luta dos palestinos. A arte ilustra uma criança olhando para o horizonte em uma posição que inspira justiça e esperança. O artista afirma que é uma criança que para sempre terá 10 anos: a idade que Ali tinha quando sua família foi expulsa de suas terras, durante a Nakba de 1948.
“O símbolo predominante é a de Handala observando silenciosamente o que está acontecendo”, diz o cartunista e jornalista Joe Sacco, autor de “Palestina” e “Notas sobre Gaza”. “Ele está em silêncio, mas está observando, e fica claro para o leitor que ele tem consciência, ele sabe o que está acontecendo. Ele sabe que há hipocrisia.”
![Handala, personagem criado pelo cartunista Naji Salim al-Ali.](https://reporterfortaleza.com.br/wp-content/uploads/2024/02/1708101229_652_Simbolismos-da-Resistencia-Palestina-Oliveiras-Chaves-do-Retorno-e-Tatreez.jpg)
‘Handal’ (Citrullus colocynthis) também é o nome de uma planta que dá frutos amargos e é extremamente resistente proveniente da Palestina. Ela tem raízes profundas e, mesmo que arrancada em uma parte, continua crescendo.
Tatreez
A arte palestina do bordado conhecida como tatreez sempre foi um aspecto integral da cultura palestina, expressando de forma única a identidade vibrante de um povo resistente. O tatreez é um tipo de bordado cuja confecção requer muita paciência e dedicação.
![Tatreez, o bordado palestino. (Foto: Ma'moun Othman / Wikicommons)](https://reporterfortaleza.com.br/wp-content/uploads/2024/02/1708101229_532_Simbolismos-da-Resistencia-Palestina-Oliveiras-Chaves-do-Retorno-e-Tatreez.jpg)
Em cada região, existem diferentes tipos de desenhos bordados nos tatreez. Em Gaza, os tatreez são conhecidos por terem símbolos de árvores. Já em Ramallah, é típico que os tatreez sejam mais avermelhados e brilhosos.