Testemunhas detalham torturas durante regime militar no Uruguai em depoimento emocionante



Tortura e violações dos direitos humanos durante a ditadura militar no Uruguai

Ela ainda detalhou que conversas entre as prisioneiras eram proibidas e, quando alguém era pego falando, era punido. Campora passou nove dias em pé por punição. Por conta disso, as detentas encontraram outros mecanismos para se comunicarem. “Quando a gente estava em fila para ir ao banheiro, apesar de estarmos sempre vendadas, conseguíamos escrever com a ponta dos dedos atrás das costas da companheira”, contou a uruguaia.

Na sessão de quinta, Campora confirmou o papel de Troccoli nas torturas. Ao responder o advogado do ex-militar, Francesco Guzzo, a uruguaia disse que a pergunta se ela reconhece o réu teria que ser contrária: “não me pergunte se eu conheço Troccoli como um dos torturadores, eu estava com os olhos vendados e não conseguia enxergar. Em vez disso, pergunte a ele se me conhece, pois não estava com os olhos vendados e conseguia ver exatamente o rosto de quem ele estava torturando”.

Em certo momento, Guzzo insistiu em perguntar se Campora o conhecia ou não, se o tinha visto ou reconhecido durante o período em que estava presa. “Responda, senhora: sim ou não, sim ou não. Responda somente sim ou não.” Visivelmente assustada pelo tom agressivo, disse que aquilo parecia um interrogatório sob tortura: “eram os torturadores que faziam esse tipo de pergunta e exigiam esse tipo de resposta: sim ou não , sim ou não”, declarou a depoente.

As vítimas

Elena Quinteros foi sequestrada em Montevidéu, capital do Uruguai, em 24 de junho de 1976 e levada para um centro de detenção clandestino. Em 28 de junho, ela fingiu que entregaria um companheiro numa zona próxima à embaixada da Venezuela. A militante conseguiu escapar e entrar nos jardins da sede diplomática, onde pediu asilo, mas oficiais uruguaios entraram no local e a prenderam.

O fato gerou uma ruptura das relações diplomáticas entre os dois países. Quinteros era militante do Partido Vitória do Povo (PVP) e foi levada ao centro de tortura “300 Carlos – o Inferno Grande”. Depois disso, nunca mais foi encontrada. Em uma ficha dos arquivos do Serviço Secreto da Marinha Uruguaia (Fusna) ela aparece como morta entre os dias 2 e 3 de novembro de 1976.

O casal Filipazzi e Potenza foram sequestrados em Montevidéu em 27 de maio de 1977 no Hotel Hermitage e entregues à unidade S2 dos Fuzileiros Navais. Tempos depois, foram transportados de avião para Assunção, no Paraguai, e recebidos por agentes da ditadura de Alfredo Stroessner.

Segundo as investigações, eles foram assassinados no Paraguai, onde seus restos mortais foram encontrados em março de 2013.


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