Ultraliberal Javier Milei e Ministro Sergio Massa travam disputa acirrada em segundo turno presidencial na Argentina





Eleição na Argentina: Tensão, Rejeição e Reviravoltas

Por Correio do Povo – 15/11/2023

Também é uma eleição que vem sendo caracterizada por tensão, rejeição, temor e reviravoltas, e que foi marcada pela ausência de nomes de peso como os ex-presidentes Mauricio Macri e Cristina Kirchner, que decidiram não se candidatar. Até mesmo o atual presidente, Alberto Fernández, desistiu de concorrer à reeleição, diante da alta impopularidade do seu governo.

Mesmo os candidatos que estão na disputa registram índices de rejeição superiores a 50%. Dessa forma, o segundo turno das eleições deve ser definido em grande parte pelo “voto contra”, e não necessariamente por entusiasmo em relação a qualquer um dos postulantes.

Nesse cenário, o ultraliberal Milei, da coalização A Liberdade Avança, um economista com pouca experiência política e que foi eleito deputado pela primeira vez em 2021, acabou se tornando o principal beneficiário da insatisfação da população com o governo do peronista Fernández, aliado de Massa, desbancando os conservadores tradicionais do país, que nesta eleição ficaram de fora do segundo turno.

Com uma mensagem “antisssistema” que incluiu ataques contra a classe política tradicional do país e a defesa de um plano de redução drástica do Estado e de dolarização total da economia, Milei conquistou no primeiro turno, em outubro, o segundo lugar, com 30% dos votos. A maioria das pesquisas mais recentes indicam que ele conseguiu formar uma pequena vantagem sobre Massa na reta final da segunda rodada.

Mas Milei também desperta temor em outras fatias do eleitorado, que não apenas rejeitam suas propostas para a economia, mas também questionam seu comprometimento com a democracia. Em sua campanha à Casa Rosada, o ultraliberal se associou a apologistas da última ditadura militar (1976-1983) — sua vice, Victoria Villarruel, já defendeu o fechamento de um museu que relembra as matanças do regime e nesta semana afirmou que a Argentina só sairá da crise com “uma tirania”. Milei também vem emulando o americano Donald Trump e o brasileiro Jair Bolsonaro, lançando, sem provas, acusações de “fraude” contra o sistema eleitoral.

O temor em relação a Milei ajudou a dar um empurrão no desgastado peronismo, que nesta eleição vem sendo liderado por Sergio Massa, atual ministro da Economia do governo Fernández e candidato da coligação Juntos pela Pátria. O fato de um ministro da Economia de um país castigado por mais de 142% de inflação anual ter se revelado um candidato competitivo não deixou de causar espanto na imprensa internacional.

A estratégia de Massa para contornar o fardo da má situação econômica e da associação com o impopular Fernández foi liderar uma campanha focada em alertar sobre eventuais riscos que uma vitória do ultraliberal Milei representaria, especialmente sobre a ampla rede de subsídios sociais em prática no país, onde 40% da população é afetada pela pobreza.

Com cenários tão apertados, os últimos eleitores que permaneciam indecisos na semana passada, que somaram apenas 2,3% no levantamento da Atlasintel, por exemplo, devem ser cruciais no resultado final.

Milei segue roteiro de “fraude” de Bolsonaro e Trump

Diante do quadro que aponta uma votação apertada, Milei tem repetido um roteiro já executado pelo americano Donald Trump e o brasileiro Jair Bolsonaro: lançar, sem provas, acusações e suspeitas de “fraude eleitoral”, no que parece uma preparação de terreno para mobilizar sua base e contestar um eventual resultado desfavorável nas urnas.

Milei já afirmou, sempre sem apresentar provas, que cédulas roubadas e danificadas teriam lhe custado mais de 1 milhão de votos nas eleições primárias realizadas em agosto. Depois,  disse que fraudes semelhantes também teriam prejudicado sua votação no primeiro turno. Nesta semana, na reta final da campanha, foi a vez de a irmã de Milei, que comanda a campanha do ultraliberal, apresentar uma queixa a um juiz federal com a alegação de “fraude colossal” e acusando a Gendarmeria Nacional, principal força de segurança do país, de adulterar “o conteúdo das urnas” para beneficiar Massa.

Nos EUA, em 6 janeiro de 2021, e no Brasil, em 8 de janeiro de 2023, discursos enganosos semelhantes feitos por Trump e Bolsonaro levaram apoiadores dos dois políticos de extrema direita a tentarem reverter violentamente o resultado eleitoral.

Em um texto no jornal argentino Clarín no qual avaliou a falta de lastro das acusações de Milei, o secretário de redação da publicação, Ignacio Miri, apontou que “fraude eleitoral é um dos poucos problemas que a Argentina não tem”.

Congresso fragmentado deve ser desafio para o próximo presidente

Além do cenário de degradação econômica, o próximo presidente do país terá que lidar com um Congresso fragmentado. Além de votarem no primeiro turno do pleito presidencial, os argentinos elegeram em 22 de outubro 130 dos 257 membros da Câmara dos Deputados e 24 dos 72 membros do Senado.

O resultado final mostrou que o próximo presidente do país terá que negociar com o Congresso para aprovar medidas, já que nem a coligação de Massa nem a de Milei conseguiram garantir maioria nas duas Casas.

A coligação partidária de Massa, a União Pela Pátria, até conseguiu eleger o maior número de deputados na Câmara, passando a contar com 108 deputados – dez a menos do que a atual bancada governista. No entanto, para garantir maioria simples na Casa, são necessários ao menos 129 deputados. No Senado, a situação do grupo de Massa se mostrou um pouco mais confortável.

Mas mesmo os votos da União Pela Pátria não são de todo garantidos para um hipotético governo Massa, já que vários congressistas eleitos…


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