Análise Química Revela Ingrediente Secreto por Trás das Primeiras Cidades
Uma descoberta fascinante revelou o ingrediente secreto por trás da criação das primeiras cidades de todos os tempos: o esterco. Análises químicas indicam que o uso de fertilizantes de origem animal foi fundamental para o surgimento e prosperidade de aglomerados populacionais com até 15 mil pessoas na Europa Oriental, há cerca de 6.000 anos.
Essas estruturas, conhecidas como “proto-urbanas” ou “megassítios” pelos arqueólogos, foram um marco da cultura de Trypillia, localizada no noroeste do mar Negro, nos territórios atuais da Ucrânia e da Moldova. O auge desses assentamentos precedeu as primeiras cidades da Mesopotâmia, que são tradicionalmente consideradas o “berço da civilização”.
A cultura de Trypillia se destacou pelo padrão concêntrico de planejamento urbano, com fileiras de casas formando um corredor em anel em torno de uma área mais aberta, semelhante a uma praça ou terreiro. Além disso, as moradias e áreas de plantio e criação de animais seguiam um padrão organizado e eficiente.
Um estudo recente, publicado na revista especializada PNAS, analisou as características químicas dos restos dos animais domésticos e das lavouras dos “megassítios”, identificando sinais de intensificação agropecuária. A equipe de pesquisadores examinou o teor de nitrogênio-15, um isótopo do nitrogênio, na matéria orgânica dos sítios arqueológicos. Os resultados indicaram um uso constante de esterco nas plantações, o que contribuiu significativamente para o sucesso da agricultura na região.
Apesar da fertilidade natural do solo, os dados revelaram que o esterco desempenhou um papel crucial no sucesso da agricultura dos povos de Trypillia. A equipe liderada por Frank Schlütz, da Universidade de Kiel (Alemanha), encontrou níveis elevados de nitrogênio-15 nos restos orgânicos dos assentamentos, o que sugere uma utilização eficaz de fertilizantes de origem animal.
Além disso, a dieta dos habitantes da região era predominantemente vegetariana, com a combinação de cereais e leguminosas fornecendo a maior parte de suas necessidades de calorias e proteínas. A carne representava apenas cerca de 10% da dieta, com a criação de animais sendo essencial para a fertilização dos campos de cultivo.
Embora as cidades primitivas da região tenham desaparecido há aproximadamente 5.000 anos, a descoberta do papel fundamental do esterco na agricultura e no desenvolvimento urbano fornece insights valiosos sobre o surgimento das primeiras civilizações. A análise química dos restos arqueológicos revela a incrível engenhosidade e adaptabilidade das sociedades antigas, oferecendo uma nova perspectiva sobre a história da civilização humana.