Entidades condenam desrespeito a fotojornalista durante CPMI do dia 8/1.

A postura de parlamentares de oposição durante o depoimento do fotojornalista da agência Reuters, Adriano Machado, na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, provocou indignação na Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e em outras cinco entidades ligadas à imprensa. Machado foi convocado como testemunha e acabou sendo alvo de ataques e insinuações por parte de deputados e senadores ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Durante o depoimento, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) insinuou que o fotojornalista era aliado dos criminosos que destruíam o Palácio do Planalto. Por sua vez, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) disse que, durante a invasão ao prédio, Machado agia como se tudo estivesse combinado. Já o deputado Marco Feliciano (PL-SP) sugeriu que o jornalista poderia ter dado voz de prisão aos criminosos, como forma de provar que não havia amizade entre eles.

Em nota, a Fenaj afirmou que os parlamentares chegaram ao extremo de questionar por que motivo o repórter fotográfico não deu voz de prisão aos manifestantes que invadiram o Palácio do Planalto. Além disso, um dos parlamentares anunciou que pediria a quebra do sigilo telemático do fotojornalista para saber com quem ele trocava mensagens. A Fenaj destacou que é trabalho das autoridades de segurança e da Justiça coibir, identificar e punir os criminosos, cabendo ao fotojornalista apenas registrar as imagens do crime.

No dia 8 de janeiro, durante a invasão e depredação dos prédios do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional, 17 profissionais de imprensa foram agredidos por apoiadores de Jair Bolsonaro, insatisfeitos com sua derrota nas urnas. Durante seu depoimento, Machado afirmou que apertou a mão de um dos criminosos depois de ter apagado as fotos que tirara a pedido de outro invasor, justificando sua atitude como forma de garantir sua segurança.

A convocação de Adriano Machado como se fosse suspeito de um crime ou de um conluio foi considerada uma forma de agressão e intimidação à imprensa pela Fenaj. A entidade destacou que a audiência expõe o profissional a riscos e ataques, que ele já vem sofrendo nas redes sociais desde que foi exposto pelos parlamentares. A Fenaj e outras entidades manifestaram solidariedade a Machado e reiteraram a confiança em seu trabalho profissional, afirmando que não permitirão que profissionais de imprensa sejam usados como joguetes nas disputas políticas e em manifestações que ameacem a democracia.

Leia a nota da Fenaj na íntegra:

“As organizações abaixo assinadas repudiam não só a convocação do fotojornalista Adriano Machado, da Reuters, à CPMI do Congresso Nacional sobre os ataques de 8 de Janeiro como a tentativa, por parte de alguns parlamentares, de atacar a honra do jornalista e a reputação de toda a imprensa brasileira.

Adriano Machado, cujo trabalho ultrapassa duas décadas de serviços prestados ao jornalismo, respondeu aos questionamentos com tranquilidade nesta terça-feira (15.ago.2023). Mas foi ofendido por diversas vezes, quando parlamentares da oposição, com vistas a atacar o governo, o acusaram de participar de uma encenação de golpe.

Chegou-se ao extremo de se perguntar ao repórter fotográfico por que motivo ele não deu voz de prisão aos inúmeros manifestantes que invadiram e depredaram o Palácio do Planalto no dia 8. Um dos parlamentares anunciou que pediria a quebra do sigilo telemático do fotojornalista para saber com quem ele trocava mensagens.

Cabe ao fotojornalista registrar as imagens do crime. O papel de coibir, identificar criminosos, responsabilizá-los e puni-los é trabalho das autoridades de segurança e da Justiça. Pedir a quebra do sigilo telemático de um profissional de imprensa é uma arbitrariedade, que contraria o direito constitucional de sigilo das fontes.

Para dar voz e vez a teorias conspiratórias e à defesa de transgressores dos preceitos democráticos, alguns parlamentares tentaram ainda equiparar o trabalho do fotógrafo e da imprensa nacional ao de ativistas políticos, denunciados e processados por crimes contra a democracia e por divulgação de falsas notícias.

Num cenário hostil à imprensa – 17 profissionais foram agredidos em Brasília durante esses protestos violentos -, a própria convocação de Adriano Machado, que teve de ir ao Parlamento como se fosse suspeito de um crime ou de um conluio, é uma forma de agressão e de intimidação à imprensa.

Mais que isso, a audiência expõe o profissional a riscos e ataques, que ele já vem sofrendo nas redes sociais desde que parlamentares o expuseram, enxergando conspiração em um vídeo que o mostra apenas executando seu papel de fotojornalista diante de uma invasão ao centro do governo brasileiro.

As organizações abaixo assinadas se solidarizam com Adriano Machado e sua família, reiterando a confiança em seu trabalho profissional. E afirmam aos parlamentares que não permitirão que profissionais de imprensa sejam usados como joguetes nas disputas políticas, tampouco nos atos e manifestações que põem sob risco a democracia.

15 de agosto de 2023

Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo

Instituto Vladimir Herzog – IVH

Instituto Palavra Aberta

Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ

Tornavoz

Repórteres Sem Fronteiras (RSF)

Ajor – Associação de Jornalismo Digital”

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