Massacre de Haximu: 30 anos após, ocorrido reacende debate acerca da segurança e amparo dos povos indígenas.

Em 18 de agosto de 1993, rádios dos estados do Amazonas e Roraima anunciaram o assassinato de um grupo de yanomamis composto por crianças e mulheres. Esse foi o primeiro e até agora o único caso de genocídio reconhecido pela Justiça brasileira, com 16 mortos. Os empresários de garimpo e os pistoleiros envolvidos no ataque fugiram da região após a divulgação das notícias.

O massacre de Haximu, como ficou conhecido, ocorreu na aldeia de mesmo nome, localizada na fronteira entre Brasil e Venezuela, um ano depois da demarcação da Terra Indígena Yanomami. O antropólogo francês Bruce Albert, que estava presente na região para auxiliar na tradução do yanomami durante as investigações, descreveu o episódio como brutal.

Segundo relatos e documentos da época, as vítimas do massacre eram majoritariamente mulheres, crianças e idosos, já que a maioria dos homens estava em uma festa em outra comunidade. Elas foram surpreendidas e mortas a tiros e golpes de facão, em um ataque liderado por Pedro Garcia, conhecido como Prancheta.

O processo de apuração durou vários dias e contou com depoimentos e entrevistas conduzidos pelo delegado da Polícia Federal Raimundo Cotrim. Os sobreviventes chegaram a uma maloca na região do Toototobi, no Amazonas, em 24 de agosto, onde forneceram informações cruciais para a construção de um documento jurídico sólido.

Trinta anos após o massacre, a Terra Indígena Yanomami é a mais populosa do país entre as demarcadas, com 27.152 habitantes, de acordo com o Censo 2022. No entanto, o episódio trouxe à tona problemas ainda mais complexos, como a expansão do garimpo e a rede de atividades ilegais associada ao crime organizado.

O relato do missionário Carlo Zacquini, que testemunhou sucessivas crises enfrentadas pelos yanomamis ao longo dos anos, evidencia o impacto emocional causado pelo massacre. Ele registrou uma das principais fotos dos sobreviventes, que seguravam cabaças contendo restos mortais.

O pesquisador do Instituto Socioambiental, Marcos Wesley de Oliveira, destaca que a disputa em torno de Haximu reflete uma disputa política, sendo que tanto a Justiça brasileira quanto o governo venezuelano condenaram o ocorrido. No entanto, há negação por parte de alguns políticos, como Hiran Gonçalves, que afirmou que o massacre não aconteceu durante uma sessão da CPI das ONGs.

Eugênio Aragão, ex-ministro da Justiça e procurador da República na época da demarcação da TI Yanomami, destaca a importância da publicidade do caso e do entendimento do STJ de que se tratava de genocídio. As penas dos condenados foram consideradas extintas em 2011 e eles foram soltos, mas Prancheta foi novamente preso em 2018 por envolvimento com mineração ilegal na TI Yanomami.

O massacre de Haximu ficará marcado na história como um episódio de violência extrema contra os yanomamis, revelando a vulnerabilidade dessas comunidades indígenas diante da expansão do garimpo e das atividades ilegais. A busca por justiça e a proteção dessas terras continuam sendo desafios enfrentados até os dias atuais.

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