A obtenção de curtidas diante do choro de um filho: até quando essa moeda de troca irá persistir?

A cena é impactante, retratando uma prática que tem ganhado popularidade nas redes sociais. Uma mãe quebra um ovo na cabeça do seu filho pequeno, que se assusta e não entende o que está acontecendo. Outro vídeo mostra uma mãe fazendo o mesmo com a sua filha, que chora enquanto a mulher ri para a câmera. Essas são apenas duas exemplos entre centenas de vídeos semelhantes que se tornaram viral no TikTok.

A trend do ovo, como é chamada, faz parte das chamadas trends do TikTok, que são tendências que engajam milhares de usuários a reproduzirem performances, desafios e brincadeiras com o objetivo de ganhar visibilidade e seguidores. No entanto, vídeos como esses não devem ser vistos apenas como memes inofensivos, uma vez que expõem crianças a situações de humilhação.

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é dever de todos cuidar da dignidade das crianças e dos adolescentes, garantindo que eles não sejam submetidos a tratamentos cruéis, violentos, aterrorizantes, vexatórios ou constrangedores. Além disso, atitudes como essas podem afetar o vínculo familiar e prejudicar a confiança entre pais e filhos.

Os vídeos da trend do ovo também ampliam uma prática preocupante conhecida como sharenting, que é o compartilhamento de imagens dos filhos nas redes sociais. Embora compartilhar momentos da infância seja comum atualmente, as redes sociais permitem que essas imagens sejam visualizadas, curtidas, compartilhadas e manipuladas por uma audiência inestimável, incluindo conhecidos e até estranhos.

Essa exposição constante e muitas vezes constrangedora levanta questionamentos sobre o efeito que terá na vida dessas crianças quando se tornarem adultos. Mesmo em casos em que vídeos de crianças chorando acabam gerando correntes de apoio, é importante destacar que é impossível prever a reação e o alcance que esses conteúdos terão. O ambiente digital já apresenta riscos para crianças e adolescentes, e os responsáveis devem se concentrar em protegê-los e controlar o uso das redes sociais, ao invés de ridicularizá-los em busca de popularidade.

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