Apostando na verticalização, bairros industriais de SP se renovam, atraindo moradores, comércios e dando uma nova vida à região.

O impacto da verticalização dos antigos bairros industriais de São Paulo é discutido por especialistas e moradores. Para alguns, como o líder de recursos humanos Lucas Benatti, a mudança trouxe benefícios significativos para a qualidade de vida. Benatti relata que trocar a residência em São Miguel Paulista pelo apartamento no Brás reduziu o tempo de viagem até o trabalho na Barra Funda de 1h30 para apenas 10 minutos. Além disso, com a chegada de novos prédios residenciais, essas áreas passaram a contar com uma diversificação de comércios e serviços.

No entanto, críticos argumentam que essa transformação está gerando problemas, como a falta de habitação para a baixa renda, o apagamento do patrimônio histórico e o descuido com o meio ambiente. Segundo a professora Regina Prosperi Meyer, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, as áreas que estão sendo verticalizadas poderiam ser ocupadas por um equilíbrio entre áreas verdes e moradias. Ela sugere que poderia ser criado um grande espaço verde próximo à ferrovia, beneficiando diversos bairros da região. Já o coordenador da FGV Cidades, Ciro Biderman, defende a verticalização dos eixos ferroviários como uma forma de frear o espalhamento urbano.

A questão da verticalização se faz presente em bairros como Barra Funda, Bom Retiro, Mooca e Ipiranga, que representam os principais polos de industrialização da cidade. A Mooca, por exemplo, registrou um aumento significativo no número de novas unidades habitacionais após a aprovação da lei de zoneamento em 2017. No entanto, a transformação desse bairro histórico também traz preocupações em relação à preservação do patrimônio arquitetônico.

Enquanto especialistas questionam os estímulos ao mercado imobiliário e a falta de consideração com a habitação de baixa renda, representantes do setor cobram mais incentivos. Eduardo Della Manna, do Secovi-SP, argumenta que a operação urbana Bairros do Tamanduateí erra ao propor um coeficiente de aproveitamento baixo, prejudicando o interesse do mercado. Segundo ele, o coeficiente deveria ser maior para despertar o interesse dos investidores nessas áreas.

Em resposta às críticas, a SP Urbanismo, responsável por projetos urbanos da gestão municipal, afirma que o coeficiente de aproveitamento mais baixo é restrito a áreas de várzea e junto à ferrovia, com o objetivo de preservar a paisagem. Em outras partes da operação Bairros do Tamanduateí, o aproveitamento será de quatro vezes a área do terreno ou até mesmo maior. A prefeitura também ressalta que o propósito principal da operação é equilibrar a oferta de empregos e moradias.

O debate em torno da verticalização dos antigos bairros industriais de São Paulo continua em curso, com argumentos a favor e contra essa transformação urbana. Enquanto alguns enxergam benefícios para a qualidade de vida e o desenvolvimento econômico, outros levantam preocupações em relação à habitação, à preservação do patrimônio histórico e à sustentabilidade ambiental. A revisão da Lei de Zoneamento e os projetos urbanísticos em análise na Câmara Municipal podem influenciar ainda mais o futuro dessas regiões e definir os caminhos da verticalização na capital paulista.

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