Além de gerar energia elétrica, o projeto busca incentivar a autogestão dos moradores em relação aos recursos produzidos. Essa iniciativa é uma evidência do potencial da energia limpa no Brasil.
O Conjunto Habitacional Paulo Freire tem uma história de autogestão desde a sua construção, há mais de vinte anos, através de um esquema de mutirão. As placas solares proporcionam uma economia de 60% nas contas das áreas comuns do prédio e a destinação do dinheiro economizado é decidida de forma coletiva.
A urbanista do Instituto Pólis, Bruna Lopes Bispo, explica que o movimento autogestionário fez total sentido para o projeto. “A ideia é não apenas instalar as placas solares, mas construir uma tecnologia em que as pessoas possam ter autonomia para gerir e administrar a energia que está sendo produzida”, afirma.
A primeira moradora do conjunto, Cristiane Gomes Lima, destaca que já existem economias reais desde a instalação das placas, e agora eles precisam decidir onde aplicar os recursos economizados. A opinião dos moradores é levada em consideração nas oficinas que deliberam sobre o assunto.
A proposta do projeto é popularizar uma fonte de energia associada tradicionalmente às classes mais favorecidas. Dora Ferreira, pedagoga e moradora do conjunto, relembra a surpresa de seu pai ao ver as fotos das placas solares instaladas. “Ele dizia que isso era apenas para os ricos. Ele achava que eu tinha enriquecido e não contado para ninguém. Foi maravilhoso para nós”, afirma Dora.
Rodrigo Lopes Sauaia, co-fundador e presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), acredita que o país tem espaço e potencial para popularizar o uso dessa energia renovável. Ele destaca que a energia solar já é a segunda maior fonte da matriz elétrica brasileira, ficando atrás apenas da energia das hidrelétricas. Sauaia também ressalta que o Brasil possui sol em abundância, o que torna essa forma de energia ainda mais vantajosa em comparação com países europeus.
Na visão do representante da Absolar, é necessário que sejam implementadas políticas públicas que incentivem a instalação de placas solares no Brasil. Atualmente, apenas 3 milhões de consumidores no país geram a sua própria energia, em um total de 91 milhões de consumidores. Segundo Sauaia, há espaço para um avanço significativo nesse setor.
A iniciativa do Conjunto Habitacional Paulo Freire serve como um exemplo que pode ser seguido em outras regiões do país, promovendo a conscientização sobre o potencial da energia solar e os benefícios que ela pode trazer tanto economicamente quanto ambientalmente.