De acordo com a presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, Margareth Dalcolmo, estima-se que já existam dois milhões de usuários de cigarros eletrônicos no Brasil, sendo a maioria deles jovens com idades entre 15 e 24 anos. Essa preocupante estatística foi reforçada pela coordenadora estadual do Programa Nacional de Controle do Tabagismo de São Paulo, Sandra Marques, que afirmou que 25% dos jovens de 18 a 24 anos estão experimentando o tabaco pela primeira vez através desses dispositivos eletrônicos.
Apesar da venda de cigarros eletrônicos ser proibida no país, Margareth Dalcolmo ressaltou a facilidade de acesso a esses produtos em qualquer lugar, o que tem levado até mesmo adolescentes de 12 ou 13 anos a apresentarem danos pulmonares semelhantes aos de um idoso de 80 anos fumante há anos. Essa permissividade na venda de cigarros eletrônicos está contribuindo para a criação de uma nova geração de dependentes de nicotina, que desenvolverão doenças pulmonares crônicas em idade muito mais jovem do que o esperado.
O deputado Dr. Zacharias Calil, autor do requerimento para realização da audiência pública, destacou que a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é responsável por metade das mortes relacionadas ao tabaco, representando um alto custo para o sistema de saúde. A DPOC é a terceira causa de óbitos no mundo e atinge aproximadamente 17% da população brasileira, resultando em cerca de 200 mil hospitalizações e um gasto anual de R$ 103 milhões.
Os especialistas presentes na audiência também ressaltaram que o cigarro é responsável por 13% de todas as mortes no Brasil, porém a arrecadação de impostos sobre produtos de tabaco cobre apenas 10% dos custos gerados por esses problemas de saúde. Apesar disso, o Brasil conseguiu reduzir significativamente a prevalência de fumantes na população, passando de 35% para menos de 10% com a implementação de políticas públicas desde a década de 1980, sendo pioneiro em ações como as advertências nos maços de cigarro e a proibição de fumar em locais fechados.
Segundo o oficial nacional de Controle de Tabaco e Impostos Saudáveis da Organização Mundial da Saúde (OMS) no Brasil, Diogo Alves, nenhum outro país conseguiu alcançar o mesmo resultado na redução do consumo de produtos com nicotina. A diretora-geral da ONG Aliança de Controle do Tabagismo, Monica Andreis, destacou a política de preço e impostos como a medida mais efetiva para reduzir o consumo de cigarros, que teria reduzido pela metade o número de fumantes entre 2009 e 2016.
Diante disso, Monica Andreis defende a criação de impostos seletivos para cigarros e derivados do tabaco, medida que foi aprovada pela Câmara dos Deputados na reforma tributária e está em análise no Senado. Essa é considerada uma estratégia importante para combater o uso de cigarros eletrônicos e promover a redução do tabagismo no Brasil.
Maria Neves – Repórter
Marcelo Oliveira – Editor