Conselho de Comunicação Social promove debate sobre impacto da IA no mercado de trabalho




02/10/2023 – 15:48

Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

Conselho de Comunicação Social debate impacto da IA no mercado de trabalho

Integrantes do Conselho de Comunicação Social (CCS) do Congresso Nacional defenderam que uma eventual legislação sobre inteligência artificial (IA) leve em conta o impacto das tecnologias no trabalho, como a eliminação de cargos. O assunto foi discutido em audiência pública do Conselho nesta segunda-feira (2).

A ideia é que o Conselho – órgão de assessoramento do Congresso Nacional para temas ligados à comunicação social – possa instruir os parlamentares sobre o tema.

Está em análise no Senado Federal o projeto de lei (PL 2338/23) que regulamenta a inteligência artificial, apresentado pelo senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente da Casa. O projeto é resultado do trabalho de uma comissão de juristas que analisou, em 2022, outras propostas relacionadas ao assunto, além da legislação existente em outros países.

A conselheira Maria José Braga, representante dos jornalistas, expressou preocupação com a exclusão gerada pela inteligência artificial e com o impacto dela no mercado de trabalho. “Apesar de gerarem outro tipo de necessidade e de trabalho, as tecnologias geram exclusão”, disse. Ela destacou que as tecnologias substituem trabalhadores e defendeu a regulação da IA com parâmetros para garantir a evolução sem exclusão.

A preocupação com a eliminação de cargos também foi levantada pela representante dos trabalhadores em cinema e vídeo, Sonia Santana. Ela questionou: “Como será a preparação de novos profissionais, quais novas funções existirão, e que política pública será gerada para sustentar as pessoas que perderem seus cargos? Como elas poderão ser atualizadas e requalificadas, se isso é possível?”

Para ela, a autorregulação da IA pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária é insuficiente. Ela defendeu uma regulação com viés ético, que respeite, por exemplo, os direitos autorais.

O conselheiro José Antônio de Jesus da Silva, representante dos radialistas, reforçou a importância de uma regulação da IA que não exclua ainda mais os trabalhadores. Segundo ele, câmeras e editores já estão deixando de existir no mercado.

A representante da Associação Brasileira de Anunciantes, Sandra Martinelli, defendeu o incentivo à inovação responsável, com preservação de direitos autorais, a autorregulação setorial e uma regulação da IA “suficientemente flexível e adaptável”, permitindo experimentação, inovação e evolução. Para ela, a regulação deve ser principiológica.

Sandra Martinelli destacou que a IA já permeia e revoluciona o processo publicitário, mas ressaltou a importância da transparência. Ela mencionou que o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) arquivou um processo aberto em julho para avaliar se uma campanha da Volkswagen utilizando inteligência artificial feria o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária.

O vídeo simulava um dueto entre Elis Regina, falecida há 41 anos, e sua filha, Maria Rita. A propaganda utilizou uma técnica conhecida como “deepfake”, que cria montagens realistas com rostos de pessoas, e que atualmente não é regulada no Brasil. O Conar entendeu que o uso da ferramenta estava evidente na peça publicitária.

O advogado especialista em Direito de Propriedade Intelectual Ygor Valério defendeu uma regulação pontual da IA, com consulta aos segmentos afetados antes de uma regulação mais ampla. “A tendência de tentar regular o ambiente da IA para fazer com que as coisas voltem ao que eram é muito perigosa. É muito importante considerar essa evolução tecnológica sob uma perspectiva positiva, tratando eventuais desvios sem impedir ou prejudicar o desenvolvimento da IA como ferramenta nas atividades de comunicação social”, opinou.

O executivo da O2 Filmes, Paulo Barcellos, também defendeu a regulação pontual para todos os setores, e não apenas para a publicidade e produção de filmes.

A representante do Conar, Andressa Bizutti, ressaltou que a Lei de Direitos Autorais protege apenas a parte da obra criada por um ser humano; a parte criada por inteligência artificial seria de domínio público.

A regulação terá que avaliar se o treinamento das ferramentas de inteligência artificial com base de dados que inclui conteúdos de autores será considerado infração aos direitos autorais. Alguns países, como o Japão, decidiram privilegiar o desenvolvimento da IA, enquanto a Europa está focada em proteger os autores – mesmo viés do projeto em análise no Senado.

“A proposta brasileira coloca que não haverá ofensa aos direitos autorais em atividades feitas por organizações e instituições de pesquisa, jornalismo e museus, entre outras. Estamos mais focados em autorizar isso para fins de pesquisa e não de uma forma ampla, como aconteceu no Japão ou como pode acontecer nos Estados Unidos”, avaliou a representante do Conar.

Para ela, se o treinamento dos sistemas for limitado, também será limitado o desenvolvimento da inteligência artificial.


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