Estudo alerta para risco de desenvolvimento inadequado em crianças de famílias em vulnerabilidade social.

Crianças de famílias beneficiárias de programas de transferência de renda, famílias em insegurança alimentar e famílias onde as mães possuem menor grau de escolaridade apresentam maior risco de ter um desenvolvimento abaixo do esperado. Essa é a conclusão do Projeto Pipas – Primeira Infância Para Adultos Saudáveis, divulgado nesta quarta-feira (25) pelo Ministério da Saúde em parceria com a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal.

De acordo com a coordenadora de Saúde da Criança e do Adolescente, Sônia Venâncio, os dados obtidos corroboram outros estudos que já apontavam a influência das condições socioeconômicas no desenvolvimento infantil. “Esses resultados podem ser utilizados para aprimorar as ações que estão sendo desenvolvidas nas áreas da saúde, educação e assistência social, visando a melhorar o desenvolvimento das crianças. Além disso, reforçam o impacto das desigualdades sociais nesse processo”, ressaltou.

A pesquisa revela que a frequência de crianças com risco de não atingir seu pleno potencial de desenvolvimento no Brasil é de 10,1% entre crianças menores de 3 anos e de 12,8% entre crianças maiores de 3 anos. Esses números evidenciam a necessidade de priorizar as crianças em situação de vulnerabilidade.

O estudo utilizou como amostra 13.425 crianças menores de 5 anos em 13 capitais, incluindo o Distrito Federal, em 2022. A maioria das crianças tinha entre 37 e 48 meses, seguido de 49 a 59 meses, e 51% eram do sexo feminino. Em 79,6% dos casos, a mãe era a cuidadora principal.

Foram aplicadas questões relacionadas a habilidades e comportamentos esperados para cada faixa etária das crianças, abordando os domínios das habilidades motoras, cognitivas, de linguagem e socioemocionais.

A análise dos dados apontou que 14,8% das crianças não receberam atendimento de uma equipe de saúde em sua primeira semana de vida, o que é recomendado pela Organização Mundial da Saúde e pelo Ministério da Saúde. Isso possui um impacto direto na redução da mortalidade infantil e no aumento do índice de amamentação.

Outro dado importante é que apenas 57,8% das crianças menores de 6 meses estavam em aleitamento materno exclusivo, também recomendado pelo Ministério da Saúde e pela OMS. Isso é preocupante, uma vez que o aleitamento materno tem impactos positivos no desenvolvimento cognitivo e global da criança.

A pesquisa também apontou que 24% das crianças menores de 3 anos não tinham nenhum livro infantil ou de figuras em casa, segundo os cuidadores. Sônia Venâncio reforça a importância de trabalhar junto às famílias a conscientização sobre a relevância desse estímulo no desenvolvimento infantil.

Além disso, foi observado que 33,2% das crianças menores de 3 anos passam mais de duas horas diárias assistindo programas de televisão, jogando no smartphone ou tablet. Esse tempo excessivo de tela pode afetar negativamente o desenvolvimento das crianças.

Outro dado preocupante é que cerca de 33% a 35% dos cuidadores de crianças menores de 3 anos acreditam que gritar ou dar palmadas são medidas necessárias para educá-las. Essas atitudes disciplinares podem ter impactos negativos no desenvolvimento socioemocional das crianças.

Por fim, a pesquisa revela que 75,6% das crianças menores de 3 anos foram engajadas por um membro da família em pelo menos quatro atividades de estímulo nos últimos três dias, como ler, contar histórias, cantar, passear, jogar ou brincar. No entanto, 42,8% dos cuidadores de crianças menores de 3 anos nunca receberam informações sobre desenvolvimento infantil por profissionais da saúde, educação ou assistência social.

Diante desses resultados, fica evidente a necessidade de ações intersetoriais que promovam uma maior conscientização e apoio às famílias, especialmente as mais vulneráveis, para que possam oferecer um ambiente propício ao desenvolvimento saudável das crianças.

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