Homens na luta pela cultura da não violência







Roda de conversa sobre masculinidade consciente promove reflexões sobre papel social do homem

06/12/2023 – 19:00

Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados

Humberto Baltar fundou, em 2019, o coletivo “Pais Pretos Presentes”

No dia nacional de mobilização dos homens pelo fim da violência contra a mulher, a Rádio Câmara, em parceria com a Secretaria da Mulher, lançou a campanha “Masculinidade Consciente”, que propõe reflexões sobre o papel social desempenhado pelo homem e destaca iniciativas de grupos masculinos na luta pela cultura da não violência.

Na abertura da campanha em uma roda de conversa sobre grupos de homens contra o machismo, realizada nesta quarta-feira (6), foram compartilhados questionamentos e aprendizados de homens que tomaram consciência dos seus medos e crenças e de como o machismo os impacta.

Humberto Baltar, idealizador do coletivo Pais Pretos Presentes, explicou que, por não ter tido um pai afetuoso, tinha dúvidas de como ser um homem carinhoso com o filho. De acordo com Baltar, o pai tinha o perfil do provedor, o que dava presentes, mas não dizia “eu te amo” e nem falava com o filho sobre suas inseguranças e dificuldades.

Ao buscar outros homens para falar de afeto, masculinidade saudável e paternidade amorosa, Humberto Baltar descobriu que não só ele enfrentava essas dificuldades. Foi quando nasceu, em 2019, o coletivo Pais Pretos Presentes.

“Entre as atividades que culturalmente entendemos que não cabem na masculinidade estão: o cuidado do lar, o cuidado dos filhos, a conversa, o diálogo e a disponibilidade afetiva, de estar disposto a dar um ombro”, afirmou Baltar. “É muito raro perceber o homem nesse papel de ouvir a companheira em uma relação heteronormativa, ou o homem que ouve os filhos para saber como foi a escola. Geralmente, esse papel de cuidar e caminhar junto é delegado apenas às mães”, apontou.

Masculinidade tóxica
Humberto Baltar lembrou que, mesmo em 2023, homens que são carinhosos, brincam com seus filhos e executam atividades do lar são vistos como piadas e como menos homens, já que essas atividades são lidas como femininas. Esses padrões e culturas alimentam o que se conhece como “masculinidade tóxica”.

Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados

Roda de conversa está disponível nas mídias sociais da Câmara e da Rádio Câmara

A deputada Delegada Ione (Avante-MG) comentou sobre a necessidade de levar o assunto para as escolas. Para ela, é urgente atingir a base da educação e ensinar às crianças sobre a construção social do País e como não reproduzir comportamentos machistas.

“É necessário inclusive ter uma disciplina curricular obrigatória para falar nisso lá na base mesmo, quando a criança está tendo sua formação. Muitas vezes ela não tem essa formação em casa, porque o pai já é machista e a mãe não tem aquela noção de ter que conscientizar essa criança”, disse.

Além dos cuidados com os filhos e com o lar, Humberto Baltar destacou a falta de interesse do homem hétero, que se relaciona com mulheres, em olhar para sua companheira como uma pessoa que também deve receber afeto.

“A gente fala muito que os homens heterossexuais se relacionam com mulheres, mas isso não é verdade: eles têm relações sexuais com mulheres, mas o relacionamento mesmo afetivo é com outros homens”, disse. “É com outros homens que eles se abrem, é com outros homens que eles riem, se divertem, desabafam, e em casa só sobra o básico: comer, dormir, manter relações sexuais e é isso.”

A roda de conversa também apresentou outro grupo de homens que questiona a construção e os comportamentos machistas da sociedade, o coletivo “Homens em Conexão”. Para Fernando Aguiar, um dos coordenadores do grupo, são essas trocas de experiências, medos e aprendizados que abrem espaço para que ideias já tão incorporadas na população sejam desconstruídas e repensadas.

O conteúdo da campanha “Masculinidade Consciente” estará disponível no Instagram da Rádio Câmara e da Câmara dos Deputados, na página da Rádio Câmara na internet e no canal da Câmara dos Deputados no YouTube.

Reportagem – Laís Menezes
Edição – Ana Chalub


Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo