Comitiva internacional analisa impactos do racismo no Brasil e faz críticas à impunidade e violência policial

Nesta sexta-feira, membros do Mecanismo Internacional Independente de Especialistas para Promover a Justiça Racial e a Igualdade no Contexto da Aplicação da Lei expressaram preocupações em relação ao Brasil. Entre os tópicos abordados estão a vulnerabilidade dos jovens negros na zona rural diante da violência, a defesa do uso de câmeras corporais para os policiais, a impunidade de agentes que cometem excessos e a falta de representatividade negra em cargos de decisão no Estado.

Os integrantes da comitiva chegaram ao país no dia 27 de novembro com o objetivo de avaliar se as leis e políticas vigentes têm assegurado ou violado os direitos da população negra. Durante a visita, passaram por diversas cidades, incluindo Salvador, Fortaleza, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, priorizando locais que registraram casos graves de violência policial recentemente, como a Operação Escudo na Baixada Santista e episódios em comunidades como Vila Cruzeiro e Jacarezinho, no Rio de Janeiro, e em Salvador.

Durante a sua estadia, o grupo conversou com autoridades do Poder Executivo, bem como representantes do Ministério Público e Defensoria Pública. Também visitaram presídios, como a Penitenciária Lemos Brito, em Salvador, e do Rio de Janeiro.

Juan E. Mendéz, um dos membros da comitiva, destacou a “impunidade generalizada” observada no sistema criminal brasileiro, além da erosão de confiança em relação às forças de segurança, causada pelas violações de direitos humanos. Ele também defendeu o uso obrigatório de câmeras corporais por parte dos agentes de segurança como medida para vigiar sua conduta e coibir abusos contra a população.

Outro membro da equipe, Tracie L. Kesse, complementou os pontos destacados por Mendéz, abordando a presença contínua do racismo em algumas leis e como isso perpetua a desigualdade em áreas como a saúde. Ela também ressaltou a falta de esforço para a utilização do nome social de pessoas transgênero e a falta de representatividade de mulheres no Poder Judiciário.

No entanto, houve críticas sobre o fato de a comitiva não ter abordado diretamente os assassinatos de lideranças quilombolas, com suspeitas de envolvimento de policiais, nem ter visitado a região Norte do país. Os membros justificaram as escolhas da programação da viagem, alegando que procuraram focar em casos como a Operação Escudo e escutaram “várias lideranças negras”, mas sem citar líderes quilombolas ou indígenas.

Após a visita, está prevista a elaboração de um relatório detalhado, a ser divulgado em setembro de 2024, que abordará em profundidade todas as questões levantadas durante a estadia no Brasil.

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