Coordenado pelo geógrafo Luiz Jardim Wanderley, professor da UFF, o estudo resultou no Relatório de Conflitos da Mineração no Brasil, o qual foi lançado no mês passado. Esta publicação foi fruto de uma parceria entre a UFF e o Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, que é composto por distintas organizações da sociedade civil.
No dia 25 de janeiro, a tragédia completou exatos cinco anos. Os indivíduos afetados organizaram uma série de eventos ao longo da semana para homenagear aqueles que foram perdidos, além de exigir uma reparação justa e a punição dos envolvidos. As famílias das vítimas contam um total de 272 mortes, incluindo duas mulheres grávidas.
Segundo Luiz Jardim Wanderley, desde o início dos levantamentos em 2020 pelo Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, Brumadinho tem sido o epicentro dos conflitos no Brasil. “São dezenas de mobilizações em busca de reparação, são mais de duas dezenas de comunidades em conflito com a Vale e outras mineradoras que operam no município. A maioria dos conflitos envolve demandas pela reparação e os efeitos do desastre sobre a terra e a água”, afirma o geógrafo.
A Vale foi procurada para comentar os resultados do levantamento, porém não respondeu até o momento. Em nota, a mineradora reafirmou seu compromisso com a reparação integral dos danos causados pelo rompimento da barragem em Brumadinho, priorizando as pessoas, as comunidades impactadas e o meio ambiente.
De acordo com os dados coletados pelos pesquisadores da UFF, houve um aumento de 22,9% no total de localidades com conflitos relacionados à mineração em 2022, em comparação a 2021. Ao longo do ano passado, foram registradas 45 mortes relacionadas à atividade minerária. Os estados que concentraram a maior quantidade de ocorrências foram Minas Gerais (37,5%), Pará (12,0%) e Amazonas (7,4%).
O relatório também detalha as empresas ligadas aos conflitos, com a Vale liderando a lista com 115 ocorrências, totalizando 24% do total. Além disso, foram mapeados 270 conflitos relacionados ao garimpo ilegal, nos quais os indígenas foram o grupo social mais violado em 31,9% das ocorrências.
Segundo Luiz Jardim Wanderley, os dados revelam como a atividade de mineração tem resultado em violações de direitos humanos e trazido danos ambientais. “A mineração tem sido uma atividade de grandes violações de direitos humanos e ambientais. Os mais violados, pela atividade legal ou ilegal, são os mais pobres, indígenas e negros”, observa o geógrafo, destacando a operação do racismo ambiental.
Adicionalmente, o geógrafo observa que as disputas territoriais se manifestam através da expulsão de pessoas, invasões e impedimento do uso da terra, além de conflitos devido aos impactos sobre os recursos hídricos, incluindo a captura excessiva e a contaminação das águas, bem como a poluição. O relatório também destaca condições de trabalho degradantes envolvidas na mineração.