Peças raras de terreiros roubadas em 1912 podem ser tombadas como patrimônio cultural brasileiro

Acervo raro de objetos sacralizados é resgatado por Iphan

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) está prestes a finalizar o tombamento de um acervo de 216 peças que foram roubadas em 1912 de terreiros em Alagoas, mas conseguiram escapar da destruição. Entre esses objetos, estão instrumentos musicais, indumentárias, estatuetas, insígnias e diversas outras peças sacralizadas que representam um valor histórico e cultural de imensurável importância.

O episódio do roubo dessas peças, conhecido como “Quebra de Xangô”, ocorreu no dia 2 de fevereiro de 1912, um ataque que envolveu ao menos 70 casas de religiões de matriz africana em Maceió e cidades vizinhas. O grupo responsável pelo ataque, intitulado Liga dos Republicanos Combatentes, promoveu vandalismo, espancamentos, ameaças e roubou objetos sagrados. Segundo pesquisadores, esse foi o único caso registrado na história brasileira de invasão a terreiros de forma coletiva.

As peças resgatadas, conhecidas como coleção Perseverança, sobreviveram aos ataques e permaneceram por um período no Museu da Sociedade Perseverança até 1950, quando foram transferidas para o Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL). Estudiosos destacam que, apesar do desgaste das peças, elas apresentam um bom estado de conservação. No entanto, há a necessidade de ações de preservação e restauração para garantir a manutenção desse importante patrimônio.

O tombamento da coleção Perseverança pelo Iphan como patrimônio cultural brasileiro implica em sua responsabilidade na preservação e acautelamento desses bens. Após a conclusão dessa fase, está prevista a realização de exposições para tornar esse contingente de objetos conhecido por um público mais amplo.

O acervo possui grande valor simbólico e é considerado uma prova material da resistência negra em Alagoas. A historiadora Larissa Fontes, autora da tese “O museu silencioso”, ressalta a importância desse tombamento para a recuperação e reparação da memória dos povos de terreiros. A luta para garantir o tombamento da coleção Perseverança tem mobilizado a comunidade religiosa afro-brasileira e acadêmicos, que veem nesse ato uma forma de valorizar a história e resistência do povo negro em Alagoas.

No entanto, é importante salientar que, ao resgatar a memória desses eventos, é fundamental compreender a complexidade do contexto e os fatores que contribuíram para a violência sofrida pelas religiões de matriz africana. O quebra de Xangô, citado no texto, tem sido alvo de estudos acadêmicos que buscam compreender e retratar o episódio de forma mais fiel à realidade, sem preconceitos ou discriminações.

Portanto, a iniciativa de tombamento da coleção Perseverança é um passo importante para a preservação e valorização da história das religiões de matriz africana em Alagoas. Espera-se que esse patrimônio cultural possa ser compartilhado e conhecido por um público mais amplo, contribuindo para a conscientização e reconhecimento da importância dessas manifestações culturais.

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