Fabricante prioriza vacina de dengue para o SUS, preocupando clínicas particulares e Associação de Vacinas

A decisão do fabricante da vacina Qdenga, o laboratório japonês Takeda, de priorizar o abastecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) tem gerado preocupação nas clínicas médicas particulares. A Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVAC) manifestou preocupação diante da possível falta da vacina em sua rede, especialmente para as faixas etárias não cobertas pelo setor público. No SUS, o público-alvo é a população entre 10 e 14 anos de idade, faixa etária que concentra o maior número de hospitalizações por dengue, atrás apenas dos idosos.

A procura pela vacina tem aumentado significativamente, e as pessoas que procuram estabelecimentos privados, incluindo laboratórios e drogarias, têm enfrentado dificuldades para conseguir o imunizante, que é aplicado em duas doses com intervalo de 90 dias.

A Takeda esclareceu que, com o atual cenário da inclusão da vacina Qdenga no SUS por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e os registros crescentes da dengue no Brasil, a empresa está concentrada em atender de forma prioritária ao Ministério da Saúde. Isso significa que a multinacional não fará novos contratos com estados e municípios, e o fornecimento da vacina no mercado privado brasileiro será limitado.

A ABCVAC informou que a procura pela Qdenga nas clínicas particulares tem tido uma escalada, mais notadamente desde outubro de 2023. A associação compreende e apoia as ações do PNI, mas ressalta o papel fundamental do setor privado complementando o setor público.

A vacina Qdenga será aplicada em 521 municípios com maiores incidências de dengue, e o calendário de aplicação deve ser definido pelo Ministério da Saúde esta semana, com a vacinação começando ainda em fevereiro.

O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, considera que a decisão da Takeda foi adequada e não compromete os esforços para a imunização da população. Ele defende que, à medida que mais doses sejam recebidas pelo SUS, o esforço deve ser para ampliar a abrangência de municípios com campanha de vacinação, além dos 521 escolhidos pelo Ministério da Saúde.

Além da Qdenga, há no Brasil outra vacina contra a dengue, a Dengvaxia, do laboratório francês Sanofi-Pasteur, que só pode ser utilizada por quem já teve dengue. Desde 2009, pesquisadores do Instituto Butantan estudam a produção de uma nova vacina contra a dengue que se encontra em fase final de ensaios clínicos.

Apesar dos esforços para mais vacinas disponíveis, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, tem defendido que o imunizante não será uma solução imediata para a doença, e pede a participação da população para acabar com criadouros do Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue.

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