Como retardar a velhice ou alcançar a imortalidade? O biólogo molecular indiano Venki Ramakrishnan responde a essas questões em entrevista exclusiva.






Entrevista com o cientista Venki Ramakrishnan

Envelhecimento e morte: as reflexões do Nobel Venki Ramakrishnan

O medo do envelhecimento e da morte é algo que afeta a grande maioria das pessoas. Mas por que envelhecemos e morremos? Será possível retardar a velhice ou até mesmo alcançar a imortalidade? São questões desafiadoras que permeiam a mente do biólogo molecular indiano Venki Ramakrishnan, de 71 anos.

Conhecido por sua pesquisa sobre ribossomos, estruturas celulares responsáveis pela produção de proteínas, Ramakrishnan recebeu o Prêmio Nobel de Química em 2009. Agora, ele se prepara para lançar o livro “Why We Die: The New Science of Aging and The Quest for Immortality” (Por que Morremos: A Nova Ciência do Envelhecimento e a Busca pela Imortalidade), previsto para ser publicado em março, em inglês.

Em uma entrevista à BBC News Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC, o cientista discute desde as reações químicas que causam a deterioração das células até as implicações das vidas mais longas para a humanidade. Ramakrishnan é um dos convidados do Hay Festival Cartagena, que termina neste 28 de janeiro na Colômbia.

O envelhecimento e o processo no ser humano

Uma das principais causas do envelhecimento está no acúmulo de danos aos genes do DNA, segundo as reflexões do cientista. Nos níveis celulares, as proteínas desempenham um papel crucial, realizando milhares de reações químicas e tornando a vida possível. Elas não só dão forma e força ao corpo, mas também permitem a comunicação entre as células, nos concedem nossos sentidos e são essenciais para a transmissão de sinais e armazenamento de memória no sistema nervoso. Além disso, os anticorpos, essenciais para a proteção do organismo, são compostos por proteínas. Quando o corpo perde a capacidade de regular a produção e destruição de proteínas nas células, o envelhecimento se torna evidente, resultando no acúmulo de danos químicos nas moléculas, células, tecidos e, consequentemente, em todo o corpo.

O envelhecimento sob a ótica evolutiva

De acordo com as reflexões de Ramakrishnan, a evolução não se preocupa com os indivíduos, mas sim com a capacidade de transmitir genes. Desta forma, ele explica que a evolução não considera a longevidade dos indivíduos, mas sim sua capacidade de crescer e reproduzir-se para transmitir seus genes. O equilíbrio desse sistema varia em cada espécie e é influenciado por fatores como o risco de predadores e o tamanho da espécie.

Expectativa de vida e os limites da longevidade humana

Ramakrishnan destaca que nos últimos 150 anos a expectativa de vida humana duplicou, levantando o debate sobre se essa tendência pode continuar ou se já atingimos o limite da longevidade dos organismos humanos. Segundo o cientista, com o conhecimento atual, 120 anos é o limite mais provável para a vida humana, e ultrapassar essa marca seria improvável. Ele enfatiza que mesmo que doenças como o câncer fossem eliminadas, a expectativa média de vida aumentaria apenas alguns anos. No entanto, Ramakrishnan ressalta que, se as causas do envelhecimento pudessem ser tratadas, talvez fosse possível ultrapassar esse limite, embora seja necessário considerar as implicações sociais dessa possibilidade.

Tratamento antienvelhecimento e abordagens futuras

Ramakrishnan destaca que, atualmente, o foco da pesquisa sobre o envelhecimento está em abordagens que visam retardar o processo, como a restrição calórica e a identificação de fatores no sangue responsáveis pelo envelhecimento. Ele menciona a descoberta de que a restrição calórica pode retardar o envelhecimento, levando os pesquisadores a buscar medicamentos com efeitos semelhantes. Além disso, o cientista ressalta o interesse em abordagens como a parabiose, que transfunde sangue de um animal jovem para um mais velho e tem mostrado resultados promissores em estudos com animais. Outras abordagens incluem a destruição seletiva de células senescentes, a reprogramação celular e a identificação de possíveis causas do envelhecimento. Ramakrishnan menciona que essas abordagens ainda enfrentam desafios, mas apresentam resultados promissores em experimentos com animais.

Desafios e reflexões sobre a velhice e o envelhecimento

O cientista ressalta que, apesar dos avanços na pesquisa antienvelhecimento, há desafios relacionados à pressão por não envelhecer. Ele destaca a importância de hábitos saudáveis, como alimentação equilibrada, sono adequado e prática de exercícios, como fundamentais para manter a saúde e retardar o envelhecimento. Ramakrishnan enfatiza que esses hábitos são mais eficazes do que qualquer medicamento antienvelhecimento existente no mercado e têm uma base biológica sólida. Além disso, ele aborda a importância de ter um propósito na vida e o paradoxo entre o desejo individual de viver mais e as consequências para a sociedade e o planeta.

Medo do envelhecimento e abordagem da sociedade

Por fim, Ramakrishnan comenta sobre o medo generalizado do envelhecimento e o impacto das tentativas de retardar o processo. Ele ressalta que a pressão para não envelhecer, principalmente sobre as mulheres, é um reflexo desse medo, resultado da falta de conhecimento na medicina. O cientista destaca que apesar dos esforços e investimentos em ciência e tecnologia para retardar o envelhecimento, ações simples como alimentação balanceada, sono adequado e exercícios físicos são mais eficazes.

Essa extensa abordagem sobre o envelhecimento, vinda de um dos principais cientistas da atualidade, traz reflexões importantes sobre a vida, a saúde e a busca pela longevidade, ressaltando a importância do equilíbrio entre avanços científicos e práticas do dia a dia para uma vida saudável e plena.


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