Nos últimos dez anos, entidade informa que mais de 30 líderes quilombolas foram vítimas de assassinato.

O assassinato de Bernadete Pacífico, conhecida como Mãe Bernardete, na noite desta quinta-feira (17), não é um caso isolado. Segundo a Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), nos últimos dez anos, pelo menos 30 líderes quilombolas foram mortos.

A entidade afirma que esses casos estão relacionados à disputa fundiária e até agora não foram solucionados. Os estados com mais registros são a Bahia, com 11 casos, Maranhão, com 8, e Pará, com 4.

Mãe Bernardete foi assassinada dentro do terreiro de candomblé que liderava na cidade de Simões Filho, região metropolitana de Salvador, Bahia. Segundo a Secretaria de Segurança Pública da Bahia, dois homens utilizando capacetes entraram na propriedade de Bernardete e dispararam 14 tiros.

Em nota, Biko Rodrigues, coordenador da Conaq, afirmou que “o caso de Mãe Bernardete se junta a esses assassinatos que estão sem resolução nenhuma. Essa situação é muito grave. Trinta pessoas tiveram as vidas ceifadas ao longo dos anos. Queremos cobrar do Estado brasileiro uma posição. Não dá para o Sistema de Justiça ignorar as violências que acontecem nos territórios quilombolas”.

Rodrigues também destacou a disputa intensa por terra enfrentada pelos quilombolas. Apesar de estarem nesses territórios há mais de 400 anos, eles são negados o direito à terra devido ao racismo fundiário existente no país.

A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública da Bahia para obter informações sobre o número de quilombolas assassinados no período mencionado pela Conaq e se foram adotadas medidas de prevenção ao conflito fundiário. No entanto, a pasta não respondeu às questões.

Em nota, a Secretaria informou que representantes do governo federal e estadual se reuniram na manhã desta sexta-feira (18) na sede da secretaria para discutir medidas conjuntas relacionadas ao assassinato de Mãe Bernardete. Durante a reunião, foram atualizados os primeiros passos da investigação, além de discutir medidas de apoio à comunidade e reforço da segurança no entorno do local do crime.

A Folha também entrou em contato com o Ministério da Justiça, mas não recebeu retorno.

Vale destacar que o filho de Mãe Bernardete, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, conhecido como Binho, líder da comunidade, foi assassinado há seis anos.

No mês passado, a própria Bernadete Pacífico denunciou as ameaças de morte que vinha sofrendo por parte de fazendeiros. O quilombo Pitanga dos Palmares está em processo de titulação e é alvo de disputas territoriais e do setor imobiliário.

Outro filho de Bernadete Pacífico, Jurandir Wellington Pacífico, afirmou nesta sexta-feira (18) que sua mãe recebia ameaças há pelo menos seis anos.

“Foi um crime de mando, não tem para onde correr. O cara foi pago para executar. Isso é notório, foi um crime de execução. Executaram meu irmão em 2017, agora executaram minha mãe. Isso me faz pensar que eu sou o próximo”, afirmou Jurandir à Folha, na entrada do Instituto Médico-Legal.

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