Leilão da Rodovia BR-476 é suspenso pela Justiça por falta de consulta às comunidades quilombolas.

A decisão judicial de suspender o leilão do lote 1 da Rodovia BR-476, no Paraná, foi tomada pela 11ª Vara Federal de Curitiba após um pedido feito pela Defensoria Pública da União (DPU). A Justiça concluiu que as comunidades quilombolas que vivem às margens da estrada não foram consultadas antes do início do processo licitatório. A juíza federal Sílvia Regina Salau Brollo acatou a alegação da DPU de que os moradores dessas comunidades teriam que passar pela praça de pedágio instalada na rodovia para ter acesso aos serviços públicos básicos prestados pelo município, como saúde, educação e acesso à Justiça.

A decisão suspende os efeitos do leilão do lote 1 até que uma audiência específica seja realizada com os representantes das comunidades quilombolas. A juíza argumentou que, neste momento do processo, não cabe decidir sobre o direito à isenção de pedágio ou à integridade do território, mas é necessário ouvir as comunidades quilombolas.

As comunidades quilombolas Feixo, Restinga e Vila Esperança de Mariental, localizadas na Lapa (PR), reúnem cerca de 600 famílias e são certificadas como tradicionais pela Fundação Cultural Palmares desde 2006. O caso foi levado à Defensoria Pública pelas lideranças dessas comunidades quilombolas afetadas. O defensor regional de Direitos Humanos, Rodrigo Zanetti, ressalta que essa decisão promove o resgate do direito à consulta livre, prévia e informada das comunidades tradicionais.

A decisão de suspender o leilão também levou em consideração o dispositivo da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que determina a consulta aos povos interessados sempre que medidas legislativas ou administrativas possam afetá-los diretamente.

No leilão realizado no final de agosto, a Infraestrutura Brasil Holding 21, controlada pelo Grupo Pátria, venceu o primeiro lote do sistema rodoviário do Paraná, que conecta o porto de Paranaguá, a Região Metropolitana de Curitiba e a Ponte da Amizade, na fronteira com o Paraguai. São esperados R$ 13,1 bilhões de investimentos nesse lote. A licitação estava na fase de recursos, com previsão de homologação do resultado pela Agência Nacional de Transporte Terrestres (ANTT) em 27 de outubro.

A ANTT informou que vai avaliar o teor da decisão e se manifestará perante o tribunal assim que for notificada.

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