Dia Nacional de Combate à Sífilis e à Sífilis Congênita destaca a importância do diagnóstico precoce e tratamento adequado

No terceiro sábado do mês de outubro, ocorre o Dia Nacional de Combate à Sífilis e à Sífilis Congênita, uma data destinada a promover a conscientização da população sobre os perigos dessa doença, os métodos de prevenção, e incentivar a participação dos profissionais de saúde e administradores de sistemas de saúde em iniciativas voltadas para a educação sobre o tema. O foco deste ano é ressaltar a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado da sífilis em gestantes durante o período pré-natal, além de abordar os casos em mulheres e homens.

A sífilis é uma doença causada pela bactéria Treponema pallidum, que pode se manifestar de diferentes formas e estágios – sífilis primária, secundária, latente e terciária. Nos estágios primário e secundário da infecção, há maior possibilidade de transmissão. A doença pode ser transmitida pelo contato sexual desprotegido com uma pessoa infectada, bem como da mãe para o feto durante a gestação ou o parto.

Na sífilis primária, o principal sinal é uma ferida, geralmente única, no local de entrada da bactéria, como pênis, vulva, vagina, colo do útero, ânus, boca ou outra área da pele. Essa lesão, chamada de cancro duro, é rica em bactérias e costuma surgir de 10 a 90 dias após o contágio. Normalmente, não apresenta dor, coceira, ardor ou pus, podendo ser acompanhada de caroços na virilha. A ferida desaparece sem necessidade de tratamento.

No estágio secundário da sífilis, os sintomas podem surgir entre 6 semanas e 6 meses após o aparecimento e cicatrização da ferida inicial. Podem ocorrer manchas pelo corpo, que geralmente não coçam e afetam as palmas das mãos, solas dos pés e outras regiões. Essas manchas são ricas em bactérias. Além disso, pode ocorrer febre, mal-estar, dor de cabeça e caroços pelo corpo. As manchas desaparecem em algumas semanas, independentemente de tratamento, o que pode levar à falsa impressão de cura.

Na fase assintomática da sífilis, os sinais e sintomas não se manifestam, e a doença se divide em latente recente (até 1 ano da infecção) e latente tardia (mais de 1 ano da infecção). A duração dessa fase varia, podendo ser interrompida pelo surgimento de sinais e sintomas da forma secundária ou terciária da doença.

A sífilis terciária pode surgir entre 1 e 40 anos após o início da infecção e é caracterizada principalmente por lesões na pele, nos ossos, no coração, nos vasos sanguíneos e no sistema nervoso, podendo levar à morte.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, de janeiro a junho de 2022, o Brasil registrou 122 mil novos casos de sífilis. Nesse período, foram identificados 79,5 mil casos de sífilis adquirida, 31 mil casos em gestantes e 12 mil ocorrências de sífilis congênita, que é transmitida da mãe para o bebê.

Entre os anos de 2016 e 2021, houve um aumento considerável nos casos de sífilis. Enquanto em 2016 foram registrados 91.506 casos, com taxa de detecção de 44,6 a cada 1.000 habitantes, em 2021 foram contabilizados 167.523 casos, com taxa de detecção de 78,5 a cada 1.000 habitantes. O número de gestantes infectadas aumentou de 38.305 para 74.095, com a taxa de detecção passando de 13,4 para 27,1. Já os casos de sífilis congênita passaram de 21.547 para 27.019, com a taxa de detecção aumentando de 7,5 para 9,9 a cada 1.000 habitantes.

A sífilis congênita é um problema grave que ocorre quando a mãe infectada transmite a doença para o bebê, uma vez que a bactéria atravessa a placenta. Isso pode resultar em perdas gestacionais ou em lesões fetais irreversíveis. Os impactos no feto podem levar a aborto ou até mesmo à morte. Sem tratamento, a criança pode nascer com sífilis congênita, necessitando de internação para realização de exames e administração de antibióticos como parte do tratamento.

Regis Kreitchmann, vice-presidente da Comissão de Doenças Infectocontagiosas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), ressalta que os sintomas da sífilis congênita podem ser confundidos com os de outras patologias, o que pode passar despercebido pelas mulheres.

Um exemplo disso é o caso de Mariana (nome fictício para preservar a sua identidade), que descobriu que tinha sífilis apenas na maternidade, depois de dar à luz a uma menina. Poucos dias após o nascimento da criança, os exames revelaram que tanto ela quanto a bebê estavam infectadas com a doença. O tratamento foi iniciado, porém Mariana relata que foi difícil e doloroso, principalmente para a criança.

Mariana alerta outras futuras mães que se cuidem e realizem o pré-natal regularmente, enfatizando a importância de fazer todos os exames mesmo que não apresentem sintomas. Ela relata que estava bem e não sentia nada, sua filha nasceu saudável, mas o resultado dos exames trouxe a surpresa do resultado positivo para a sífilis.

Karina Lopes Capi, especialista em saúde da mulher, enfermagem e obstetrícia, além de professora de Saúde da Mulher na Faculdade Anhanguera, sugere que o aumento de casos em 2022 possa estar relacionado com a diminuição da notificação durante o período da pandemia da covid-19, porém, enfatiza que ainda não é possível afirmar que estamos vivendo uma epidemia, uma vez que os dados abrangem apenas os primeiros 6 meses do ano.

A prevenção da sífilis pode ser feita através do uso de preservativos durante as relações sexuais. Além disso, há testes rápidos disponíveis nas unidades básicas de saúde para detectar a infecção, e o tratamento é realizado com penicilina, variando de acordo com o estágio da doença. Durante a gestação, tanto a mãe quanto o bebê recebem o medicamento por via intramuscular, com o número de injeções variando conforme o tempo desde o contágio. O parceiro também deve ser tratado com o mesmo regime de tratamento, ou então pode optar por um antibiótico oral. É fundamental seguir o tratamento indicado e realizar exames de sangue para confirmar a eficácia da terapia.

Karina destaca que nem sempre a criança apresenta sintomas ao nascer, mas quando a mãe é diagnosticada com sífilis, é necessário um acompanhamento cuidadoso do bebê, pois os sintomas e manifestações clínicas costumam surgir nos primeiros 3 meses de vida. Essa vigilância deve continuar até pelo menos os 2 anos de idade.

A sífilis é uma doença grave que apresenta um aumento preocupante no Brasil. O diagnóstico precoce, o tratamento adequado e a prevenção são fundamentais para controlar essa enfermidade e evitar suas graves consequências, seja para a mulher, para o feto ou para os recém-nascidos. A conscientização e a educação da população sobre os riscos da sífilis, a importância do pré-natal e a utilização de métodos de proteção são essenciais para reverter essa tendência e diminuir os índices de infecção.

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