Ingressos caros e elitização: o fenômeno presente na final da Copa do Brasil entre Flamengo e São Paulo.

A final da Copa do Brasil, ocorrida recentemente entre Flamengo e São Paulo, trouxe à tona uma questão cada vez mais presente no futebol: os altos preços dos ingressos. Especialistas apontam que esse fenômeno é um reflexo da elitização do esporte mais popular do planeta.

De acordo com o jornalista e pesquisador Irlan Simões, do Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte da UERJ, uma das consequências do aumento dos valores dos ingressos é a mudança no perfil dos torcedores presentes nos estádios. Segundo ele, não houve um esvaziamento dos estádios, mas sim uma substituição do público. Isso pode ser atribuído à sensação de exclusão provocada pelas novas políticas de precificação. No entanto, Simões acredita que, após dez anos desde a inauguração das modernas arenas, reconhece-se o fracasso do projeto inicial e a importância de se ter setores populares dentro dos estádios, caso contrário, eles ficarão vazios.

Essas políticas de precificação estão diretamente relacionadas ao processo de modernização dos estádios, muitos dos quais foram remodelados para a Copa do Mundo de 2014. No entanto, medidas como a extinção de setores populares, como a geral, acabaram substituindo parcelas populares de torcidas nas arquibancadas. Isso resultou na exclusão de torcedores que ajudavam a dar vida aos estádios com sua sociabilidade, vivência e experiência.

Os estádios, por sua vez, muitas vezes não conseguem acomodar todo o público interessado em assistir às partidas. Pedro Daniel, pesquisador da consultoria EY, destaca que há uma forte demanda por ingressos em relação à capacidade dos estádios. No entanto, ele ressalta a importância de os clubes entenderem a quem desejam engajar. É necessário equilibrar a relação entre finanças e esportividade para não abrir mão de um em detrimento do outro.

Diante desse desafio, Simões propõe uma participação política dos torcedores nos clubes. Muitas vezes, os dirigentes e conselheiros mais influentes desconhecem a realidade dos torcedores comuns, como a dificuldade em pagar um plano de sócio-torcedor ou se deslocar até o estádio. O pesquisador acredita que permitir que grupos de torcedores tenham voz pode trazer aprendizados importantes nesse sentido.

Em suma, a final da Copa do Brasil e os altos preços dos ingressos evidenciam a elitização do futebol. No entanto, é necessário buscar um equilíbrio entre a demanda e a capacidade dos estádios, além de abrir espaço para a participação ativa dos torcedores nas decisões dos clubes. A inclusão de setores populares nos estádios é essencial para preservar a tradição e a vivência da torcida, não apenas nos clubes vitoriosos, mas em todas as equipes.

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