Análise jornalística sobre a reforma constitucional na Argentina
Na Argentina, a recente reforma constitucional implementada pelo governo de Javier Milei, com a nomeação do “Messi das finanças”, Luis “Toto” Caputo, no Ministério da Economia, desencadeou uma série de reações antagonistas, com protestos, greves e mobilizações por parte dos trabalhadores e oposição às políticas propostas.
A reação dos trabalhadores organizados na CGT foi imediata, com a convocação de assembleias e posterior Greve Geral em 24 de janeiro, resultando na declaração da inconstitucionalidade da reforma trabalhista proposta no Capítulo IV do DNU.
Além das manifestações legais, houve vários panelaços por todo o país, culminando na realização massiva da Greve Geral, com mais de 1,5 milhão de trabalhadores participando. Essas ações representaram a primeira grande derrota do governo de Milei diante dos trabalhadores organizados, que temem o desemprego e a precarização do mercado de trabalho que a reforma poderia acarretar.
Segundo pesquisas recentes, a população argentina demonstra insatisfação com as políticas adotadas pelo governo, atribuindo o ajuste econômico às classes trabalhadoras, e critica a eficácia do livre mercado, apontando o enriquecimento apenas da parcela rica da sociedade. A imagem negativa do governo aumentou significativamente, enquanto a CGT ganhou maior aprovação popular.
O impacto das políticas do governo foi sentido diretamente no bolso dos trabalhadores, com uma desvalorização acentuada da moeda e inflação crescente, resultando em perda de poder aquisitivo histórica de 33%. Adicionalmente, a supressão de subsídios em energia e transporte também afetou o orçamento das famílias, refletido na queda acentuada do consumo de produtos de massa.
A situação econômica do país trouxe queda expressiva nas vendas no varejo, especialmente no setor de vestuário, evidenciando que o impacto do ajuste recai sobre a maioria trabalhadora e não na “casta” mencionada pelo governo. Além disso, a repressão dos protestos sociais gerou um alto custo para o Estado, evidenciando que o ajuste econômico se baseia em falácias e repressão.
A falácia das “duas argentinas”
Em análises recentes, fica evidente que as políticas de reforma econômica e do Estado adotadas pelo governo libertário não têm sido eficazes para enfrentar a crise econômica e atender as necessidades da classe trabalhadora. O governo precisa governar considerando o bem-estar da população em geral para garantir a legitimidade de suas ações.
A população argentina tem demonstrado sua resistência aos impactos das políticas econômicas, e o governo deve compreender que o país não se divide em dois grupos dicotômicos, mas sim entre a casta empresarial enriquecida e a população trabalhadora empobrecida. É essencial que Milei leve em consideração os recentes acontecimentos que marcaram a realidade nacional, a fim de buscar soluções mais eficazes para tirar o país da crise.
Diego Lorca | Licenciado em Psicologia. Diretor do Observatório Internacional do Trabalho do Futuro, associado ao Centro Latino-americano de Análise Estratégica, CLAE.
Tradução: Ana Corbisier
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