Clima de indecisão e temores de ruptura democrática marcam dia de posse do presidente eleito da Guatemala






Instabilidade na Guatemala antes da posse presidencial

Instabilidade na Guatemala antes da posse presidencial

O clima de indecisão e temores de ruptura democrática se mantém na Guatemala neste domingo (14), data
em que o presidente eleito, Bernardo Arévalo, deve tomar posse do cargo. A cerimônia deveria trazer algum
alívio para as instituições democráticas da região, onde o autoritarismo ganha espaço.

Manifestantes ameaçaram invadir o Congresso da Guatemala depois que uma sessão para empossar legisladores
recém-eleitos foi adiada. O episódio levantou dúvidas acerca da cerimônia mais importante do cronograma, a
posse de Arévalo, embora ele tenha afirmado, segundo a imprensa local, que o rito seria mantido.

Segundo ele, aqueles que atrapalham as cerimônias estão “tentando violar a democracia com ilegalidades”.

O impasse com os deputados se dá em decorrência de uma decisão judicial deste domingo que determina que os
legisladores do Semilla, o partido de Arévalo, assumam seus cargos como independentes, não sob o signo da
legenda, suspensa pela Justiça em agosto do ano passado.

O cenário de incertezas e de insegurança jurídica, que marcou a cena política da Guatemala desde a vitória
eleitoral de Arévalo, gerou todo o atraso. O Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) havia suspendido a
inabilitação do Semilla, mas posteriormente, no início de novembro, confirmou-a.

Se conseguir assumir o cargo, o centro-esquerdista será finalmente declarado presidente após ser eleito em
segundo turno em agosto do ano passado quando surpreendeu a todos.

Lá fora

Arévalo prometeu que trabalhará para encerrar o que chamou de “um período tenebroso” de “cooptação corrupta
do sistema político”. No X, em um vídeo, disse que, “apesar de todas as tentativas de grupos corruptos de
impedir que a vontade popular fosse escutada, no dia de hoje a Constituição será honrada e haverá uma
mudança”. “Estamos falando sobre o futuro com todas as delegações [estrangeiras], que demonstraram muita
vontade de nos apoiar nesse processo de desenvolvimento que queremos fazer.”

Nos meses seguintes às eleições, a procuradora-geral Consuelo Porras, uma figura vista como aliada do agora
ex-presidente Alejandro Giammattei, buscou retirar sua imunidade por suposta relação dele com a ocupação da
Universidade de San Carlos, que durou de maio de 2022 a junho de 2023, e na qual teriam sido cometidos
delitos.

Os movimentos levaram não apenas milhares de moradores às ruas para protestar, em muitos atos que eram
conduzidos por indígenas locais, como também despertaram a atenção de outros países, que criticaram as
medidas, entre eles Estados Unidos e o próprio Brasil.

Assim, tomar posse não é o único desafio de Arévalo. Cientistas políticos já calculam sua complicada vida no
Congresso. Isso porque, apesar de sua vitória representativa com 58% dos votos, seu partido conseguiu
apenas 23 das 160 cadeiras do Legislativo unicameral.

O partido conservador Vamos, de Giammattei, e o UNE, da ex-primeira-dama Sandra Torres, podem assim barganhar
juntos vitórias e atrapalhar os planos do governo.

O Semilla tem origem no que alguns chamaram de “primavera guatemalteca”, protestos contra a corrupção
política no país, revelada por um órgão de investigação apoiado pela ONU.

A Guatemala que Arévalo deve herdar ocupa o 30º lugar entre 180 países no ranking de corrupção da
Transparência Internacional e tem 60% de seus 17,8 milhões de habitantes vivendo na pobreza, um dos
índices mais altos da América Latina.

A situação leva um número cada vez maior de guatemaltecos a deixarem o país, e o destino de muitos são os
Estados Unidos. Desde 2020, eles foram a segunda nacionalidade a mais tentar cruzar a fronteira sul do
país, com o México, correspondendo a 12% dos migrantes ali encontrados pela Patrulha da Fronteira
americana. Somente no último ano fiscal (de outubro de 2022 a setembro de 2023), foram mais de 213 mil
cidadãos da Guatemala.

O imbróglio pós-eleições na Guatemala

25.jun.23 Arévalo surpreende e vai ao 2º junto com Sandra Torres

2.jul.23 Suprema Corte pede anulação dos resultados do 1º turno por suspeitas de
irregularidade, mas TSE confirma que haverá 2º turno

12.jul.23 Tribunal ordena suspensão do Semilla, partido de Arévalo; Supremo reverte a
decisão mas depois volta atrás

20.ago.23 Surpresa no 1º turno, Arévalo é eleito presidente

25.ago.23 Líder eleito diz ser alvo de plano de assassinato

14.set.23 Arévalo interrompe transição após procuradores abrirem caixas de votação

16.nov.23 Ministério Público afirma que vai pedir a retirada da imunidade do presidente
eleito

14.jan.24 Arévalo tenta tomar posse, mas cerimônia é atrasada em meio a manifestações


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