Desde tempos remotos, a ideia de que a prisão é capaz de “corrigir” detentos tem sido questionada por especialistas e estudiosos.

As prisões são locais de sofrimento, mas o objetivo delas deve ser a regeneração dos prisioneiros. Nos Estados Unidos, essa ideia de reabilitação remonta ao século XIX, com a inauguração do Reformatório Elmira. Essa instituição visava transformar os prisioneiros, não apenas privá-los de liberdade. No entanto, a noção de que a prisão e o sofrimento podem ser benéficos para o prisioneiro não é uma novidade do século XIX. Na Mesopotâmia, há cerca de 4.000 anos, já havia evidências de que o aprisionamento era visto como uma experiência transformadora e purificadora.

Em meus estudos de pós-graduação sobre a escravidão na Mesopotâmia, encontrei vários textos que tratavam do aprisionamento. Alguns eram documentos administrativos, outros eram textos jurídicos, literatura ou cartas pessoais. Fiquei fascinado com a visão do aprisionamento nessas culturas, onde ele era visto como uma experiência transformadora e purificadora.

Um exemplo disso é o Hino a Nungal, uma deusa da prisão mencionada em textos mesopotâmicos. Nungal era celebrada por sua compaixão, mesmo sendo inevitável sua justiça. Sua “casa” trazia sofrimento aos prisioneiros, mas também possibilitava sua purificação através do lamento. O hino descreve prisioneiros transformados por seu tempo na prisão, onde seus corações eram acalmados e seus espíritos refrescados.

É importante ressaltar que não se sabe ao certo até que ponto essas histórias sobre os deuses eram levadas a sério na época. Além disso, os reinos mesopotâmicos utilizavam as prisões para deter suspeitos antes da punição, mas a prisão não era vista como uma forma de punição em si.

No entanto, os estudiosos encontraram evidências de que Nungal também desempenhava um papel no sistema judicial. Em alguns templos, os juramentos eram feitos na presença de uma rede de arremesso, que simbolizava Nungal e a justiça inescapável. Além disso, durante o festival de Ano Novo, o rei era colocado em uma prisão improvisada feita de junco, onde oferecia orações aos deuses por seus pecados.

Atualmente, a forma como os sistemas prisionais pensam sobre a regeneração é diferente. No entanto, a ideia de que o sofrimento pode ser benéfico para os prisioneiros ainda está presente. Essa ideia tem raízes históricas profundas e permite que os sistemas carcerários afirmem que o sofrimento dentro das prisões é compassivo.

Em conclusão, a ideia de que o aprisionamento pode ser transformador e purificador não é uma novidade do século XIX, mas remonta há milênios na Mesopotâmia. Ainda que as circunstâncias e objetivos das prisões tenham evoluído ao longo do tempo, a noção de que o sofrimento pode ser benéfico para os prisioneiros continua presente em alguns sistemas prisionais.

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