CNJ encontra indícios de “gestão caótica” em acordos de delação da Lava Jato, aponta relatório preliminar.

Um relatório parcial de inspeção realizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) revelou indícios de uma “gestão caótica” no controle de valores provenientes de acordos de delação e leniência firmados na Operação Lava Jato. O documento apontou irregularidades na 13ª Vara Federal em Curitiba, que foi comandada pelo ex-juiz e atual senador Sergio Moro (Pode-PR).

Segundo o relatório, os acordos eram homologados pela vara sem todos os documentos necessários, o que incluía a falta de apresentação das circunstâncias da celebração e das discussões ocorridas entre as partes. Além disso, os servidores responsáveis pela investigação afirmam que os acordos poderiam beneficiar o repasse de R$ 2,5 bilhões de recursos desviados da Petrobras para a criação da chamada Fundação Lava Jato, gerida pela própria força-tarefa chefiada pelo ex-procurador Deltan Dallagnol.

O relatório aponta a possível existência de conluio entre os diversos operadores do sistema de justiça com o objetivo de destinar valores e recursos no Brasil, permitindo que a Petrobras pagasse acordos no exterior que retornariam exclusivamente para a força-tarefa da Lava Jato. Essa conduta foi considerada preocupante pelos responsáveis pela investigação.

Além disso, o relatório constata que os acordos de leniência assinados entre a Lava Jato, a Odebrecht e a Braskem foram realizados sem informações completas e com valores estipulados por autoridades estrangeiras. Essa conduta foi considerada “absurda” pelos técnicos que analisaram o caso.

Os magistrados atuantes na 13ª Vara Federal de Curitiba, de acordo com o relatório, se conformavam com a ausência de informações essenciais para uma avaliação transparente e adequada dos acordos. Isso incluía a falta de informações sobre as tratativas realizadas, o método utilizado para definição de valores e vítimas, e a ausência de documentos produzidos pela defesa técnica durante as discussões.

O relatório final sobre as irregularidades encontradas deve ser analisado neste mês pelo plenário do CNJ. Espera-se que o Conselho proponha a abertura de investigação contra os juízes e procuradores que atuaram nas investigações da Lava Jato.

Essa revelação ocorre apenas uma semana após o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), anular provas obtidas nos acordos de leniência da Odebrecht. Toffoli também determinou que a Advocacia-Geral da União (AGU) inicie uma investigação contra os agentes públicos envolvidos na assinatura desses acordos.

Essas recentes descobertas podem abalar a credibilidade da Operação Lava Jato e levantar questionamentos sobre a integridade e o cumprimento das normas legais no decorrer das investigações. Agora, cabe ao plenário do CNJ e à AGU tomar as devidas providências para esclarecer os fatos e garantir que quaisquer irregularidades sejam devidamente apuradas.

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