Especialistas em segurança pública classificam essas ocorrências como desaparecimentos forçados, uma vez que as vítimas são sequestradas, torturadas e mortas, com seus corpos sendo destruídos ou escondidos. O problema é que o desaparecimento forçado não é considerado um crime tipificado no país, e, portanto, não há estatísticas precisas sobre o assunto.
Recentemente, pesquisadores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro realizaram um estudo que tenta fornecer informações sobre esse fenômeno. A pesquisa analisou denúncias feitas ao Disque-Denúncia, informações das redes sociais e dados de homicídios e desaparecimentos fornecidos pelo Instituto de Segurança Pública, entre 2016 e 2020, na Baixada Fluminense.
Os resultados revelaram uma possível relação entre os altos índices de homicídios e de desaparecimentos na região. Municípios como Queimados e Nova Iguaçu lideram os rankings de taxas e números absolutos desses crimes, revelando uma atuação violenta das milícias que disputam territórios na área.
Outro ponto destacado pelos pesquisadores foi a associação entre os desaparecimentos e a letalidade policial em determinados locais. O município de Japeri, por exemplo, apresenta altos números tanto de desaparecimentos como de mortes por intervenção policial.
Para José Cláudio Souza Alves, coordenador da pesquisa, a tipificação do crime de desaparecimento forçado é fundamental para melhorar as políticas de segurança pública no país, permitindo um combate mais eficaz a esse tipo de violência. Dessa forma, seria possível mensurar e combater de forma mais assertiva casos de desaparecimentos forçados, que, muitas vezes, passam despercebidos pelas autoridades e pela população.
Apesar de a Polícia Civil do Rio de Janeiro destacar a existência de unidades especializadas na investigação de desaparecimentos, a falta de tipificação do crime faz com que muitos casos não sejam devidamente registrados e investigados. A pressão por uma legislação que tipifique o desaparecimento forçado continua sendo uma demanda dos pesquisadores e da sociedade em geral.