Opções do Hezbollah em relação a Israel

O Hezbollah está atualmente diante de decisões cruciais em relação a suas hostilidades com Israel, e estas decisões são regidas por três variáveis importantes. A primeira delas diz respeito à situação em Gaza. Israel busca destruir completamente o Hamas e está disposto a cometer um genocídio para atingir esse objetivo. Porém, as chances de sucesso nesse empreendimento são bastante incertas. Se o Hamas conseguir prolongar a luta e infligir danos significativos a Israel, o Hezbollah poderá marcar pontos políticos importantes, simplesmente mantendo Israel distraído na sua frente norte. Desta forma, o partido poderá evitar os perigos de uma escalada e ter a oportunidade de lutar em um momento mais propício.

A segunda variável é a base de poder do Hezbollah no Líbano, que, apesar de apoiar os palestinos, reluta em travar uma guerra com Israel. Sabendo que um ataque israelense ameaçaria suas casas e infraestrutura nacional, o Hezbollah está relutante em alienar esse eleitorado. Por fim, a terceira variável é o Irã e seus interesses, incluindo a aproximação diplomática com a Arábia Saudita e as negociações com o governo dos EUA sobre sua tecnologia nuclear.

Contudo, à medida que a máquina assassina de Israel abate palestinos aos milhares, cada uma dessas variáveis pode mudar. Se o Hamas parecer estar em perigo existencial, o cálculo para o Hezbollah pode ser diferente, já que a perda deste aliado encorajaria Israel a atacar o Líbano em seguida. Além disso, se Israel decidir atacar civis no Líbano e causar grandes baixas, não se pode esperar que o Hezbollah permaneça inerte.

Portanto, para o Hezbollah, a intervenção militar é sempre uma estratégia política baseada na aritmética dos ganhos e das perdas e no complexo campo de aliados e dos interesses. O próximo passo do partido será decidido pelas exigências do pragmatismo e pela análise constante das variáveis em jogo.

* Suleiman A. Mourad é historiador do Islã e do Oriente Médio. É professor de religião no Smith College (EUA) e membro associado do Nantes Institute for Advanced Study (França). Sua pesquisa se concentra na história islâmica e no pensamento religioso, em Jerusalém, na ideologia da Jihad e nos desafios da modernidade que levaram a grandes mudanças na percepção e na atitude dos muçulmanos em relação à sua própria história, tradição jurídica e pensamento clássico

* Tradução de Raul Chiliani