Emocionada, viúva de vítima da chacina de Vigário Geral revela que a dor da perda é incurável.

No dia 29 de agosto de 1993, a comunidade de Vigário Geral, localizada na zona norte do Rio de Janeiro, viveu uma tragédia que marcaria para sempre a vida de suas famílias. Nessa data, 21 pessoas foram brutalmente assassinadas por policiais militares do grupo conhecido como Cavalos Corredores, que integrava o batalhão da área. Entre as vítimas estava Adalberto de Souza, marido de Iracilda Toledo, que desde então carrega consigo a dor da perda.

O motivo do massacre tinha como objetivo vingar a morte de quatro colegas policiais, que haviam sido assassinados pela facção criminosa responsável pelo tráfico de drogas em Vigário Geral. No entanto, as vítimas dessa retaliação foram escolhidas aleatoriamente e não tinham nenhuma relação com o grupo criminoso. Adalberto, por exemplo, era um ferroviário de 40 anos que morava em uma casa cedida pela empresa onde trabalhava. Ele foi morto enquanto estava em um bar junto com outras seis pessoas.

Além das vítimas que estavam no bar, oito membros de uma mesma família foram executados em sua casa, enquanto outras seis pessoas que estavam nas ruas também foram alvejadas pelos policiais. Iracilda relata que, para ela, a dor dessa tragédia é tão intensa hoje quanto foi há 30 anos. Segundo ela, não existe remédio nem cura para esse tipo de sofrimento, é uma dor que permanecerá com ela pelo resto da vida.

Ao longo dessas três décadas, pouco avanço foi feito em relação à justiça para as vítimas de Vigário Geral. Das 52 pessoas denunciadas pelo envolvimento na chacina, apenas quatro foram condenadas pelo crime. José Fernandes Neto e Paulo Roberto Alvarenga foram beneficiados com liberdade condicional em 2006 e 2013, respectivamente. Sirlei Alves Teixeira estava em regime semiaberto desde 2017, mas foi morto este ano em frente à sua casa. Alexandre Bicego Farinha foi assassinado em 2007 enquanto aguardava o julgamento de um recurso em liberdade.

Outros envolvidos chegaram a ser condenados no primeiro júri, mas foram absolvidos em julgamentos posteriores. É o caso de Arlindo Maginário Filho, que inicialmente foi condenado a 441 anos de prisão e absolvido em novo júri em 2003. Roberto César do Amaral, condenado a seis anos de reclusão no primeiro júri, também foi absolvido em um segundo julgamento em 2007. Já Adilson Saraiva da Hora foi condenado nos dois primeiros júris (72 anos e 59 anos), mas acabou sendo absolvido no terceiro.

Somente no ano passado, as 13 famílias das vítimas voltaram a receber pensão vitalícia do Estado, graças à aprovação de um projeto de lei pela Assembleia Legislativa. Em homenagem às vítimas, está prevista para hoje a inauguração de um monumento com os nomes dos 21 mortos na Praça Catolé do Rocha. Uma missa será celebrada pelo arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta, à noite no Centro Cultural Waly Salomão. Além disso, o Cristo Redentor será iluminado de verde às 19h como forma de lembrar e prestar homenagem às vítimas dessa triste tragédia que marcou a história de Vigário Geral.

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