As altas taxas de rejeição foram atribuídas à desaprovação das mudanças propostas, à desconfiança nos conselheiros encarregados de reescrever o texto e a outras preocupações, incluindo o aumento da criminalidade. Uma das críticas é que o texto não reflete a sociedade chilena como um todo, apenas uma parte política específica.
Catalina Lagos, membro de uma comissão de especialistas encarregada de revisar a minuta, defende que ainda é possível moderar a Constituição proposta. No entanto, a consultoria Teneo alerta que todo o processo pode entrar em colapso caso o conselho se recuse a aceitar as mudanças propostas pela comissão de especialistas.
Essa segunda tentativa é dominada por membros mais à direita, ao contrário da primeira, rejeitada pelos chilenos em um referendo em setembro de 2022. O texto anterior, elaborado principalmente por políticos de esquerda, foi criticado por não representar a sociedade como um todo, apesar de ser considerado uma das cartas mais progressistas do mundo.
O pêndulo ideológico sugere que muitos chilenos estão desconfortáveis com os extremos de ambos os lados, menos de dois anos após o início da presidência de Gabriel Boric, de esquerda. Lagos, que também participou da redação da primeira tentativa, destaca que agora o pêndulo se moveu na direção oposta.
Uma das questões polêmicas dessa nova proposta constitucional é a questão do aborto. Enquanto o primeiro texto permitia a interrupção voluntária da gravidez, a proposta atual faz uma mudança gramatical em uma cláusula constitucional, referindo-se ao nascituro por um pronome pessoal em vez do impessoal atual. Defensores do aborto consideram essa mudança restritiva e temem que ela possa abrir caminho para leis de aborto mais restritivas.
Em um cenário em que o direito ao aborto está se expandindo em vários países da América Latina, como México e Argentina, defensores do direito ao aborto estão preocupados com a possibilidade de que um ressurgimento da direita na região possa interromper o progresso conquistado até agora.
Essa preocupação é compartilhada por ativistas e advogados de outros países da região, que estão atentos ao que está acontecendo no Chile. Agustina Ramón Michel, advogada argentina do consórcio latino-americano contra o aborto inseguro (Clacai), destaca que atualmente está havendo uma reação contrária à Constituição anterior, mas também alerta para o perigo de ir para os extremos.
No entanto, é importante ressaltar que a reprodução deste conteúdo é proibida.